Ciência e Cidadania

A premissa basilar é: ciência é o saber capaz de conduzir o homem ao conhecimento da verdade e, neste contexto, verdade é o conhecimento das mais variadas formas e manifestações das relações fundamentais que regem e estruturam o nosso universo existencial e ou relacional... A ciência é um saber universal, totalizante. Por muito tempo foi veiculado ---estrategicamente pela burguesia ---, que ciência era todo e qualquer conhecimento capaz de resolver problemas; historicamente, sabe-se que com o declínio do feudalismo e conseqüente ascensão da burguesia, inúmeras dificuldades surgiram e, com o intuito de gerenciar novas demandas, variados foram os problemas estruturais que o “novo” modo de produção enfrentou de início; à ciência da época coube dar respostas, soluções, daí, a explicação insuficiente que chegou até nossos dias de que ciência tem como função primeira a resolução de problemas. É claro que ela resolve problemas, mas, o objeto da ciência é muito maior, mais amplo; entendemos ciência como uma ferramenta de aproximação, previsão e mudança de realidades, um conhecimento capaz de proporcionar uma vivência relacional mais justa, mais humana.

Um exercício pleno da cidadania, passa necessariamente pelo crivo, método e acesso indiscriminado do rigor científico à todo e qualquer cidadão, independentemente de raça, religião e gênero; para tanto, urgente é socializar o saber da ciência, essa tarefa cabe em grande parte à escola. O modelo educacional ao qual fomos e estamos submetidos, é um dos pontos de estrangulamento que os nossos educandos enfrentam, uma vez que a escola burguesa é montada, idealizada e operacionalizada sob as condições do modo de produção capitalista, e como tal, a educação formal---Transmissão sistemática do conhecimento historicamente acumulada pela humanidade---, é realizada em circunstâncias tão alienantes que acaba por se tornar um processo contínuo e constante de desumanização, numa domesticação servil do homem... Uma domesticação fundada na disciplina para o consumo e o sistemático mascaramento das relações de dominação e exploração que são em última instância, o que determina o mundo e o modo de produção em que vivemos.

Aos educadores, professores e intelectuais, cabe a função de partícipe das práticas e mudança social, agentes de superação das condições históricas, somos todos construtores de novas sínteses profissionais, de uma nova sociedade que aceita novos desafios propostos pela prática social; concebemos o conhecimento científico e seu objetivo como conhecimento que permite entender o mundo em suas conexões intrínsecas; esses novos profissionais sabem que o saber que permite a dominação é o mesmo que possibilita a emancipação. Juntos saberemos combater a visão burguesa de uma ciência meramente instrumentalista, colocando-a nas mãos dos trabalhadores como uma ferramenta imprescindível à mudança e transformação social.

Falar em ciência e o “modus operantis” de transmissão do seu conteúdo nos moldes que acontece em nosso país e, a relação com o tipo ou perfil de cidadão que o Estado brasileiro vem produzindo ao longo de sua existência histórica, é falar da maior dívida social que o Brasil contraiu ao longo da sua existência, é dizer de um Estado omisso, negligente e perverso quando a temática em questão---foi e é no presente---, o acesso à educação no Brasil. O abismo existente entre aqueles que acessaram o sistema e aqueles que ficaram à margem é a prova material, definitiva e cabal do quanto irresponsável foi e é o nosso país com seus patrícios.

Levantar uma bandeira que defenda a viabilidade dos conteúdos da ciência para todos indistintamente, é o mínimo que um Estado-omissida pode fazer para minimizar a sua condição de réu que a historia já o condenou. O Estado brasileiro peca grotescamente quando percorre os mesmos caminhos do passado; a visão obtusa dos nossos dirigentes levará fatalmente o nosso país à condição de mero consumidor de tecnologias e à humilde categoria de produtor de matéria-prima, pura e simplesmente.

Partimos do pressuposto que só o homem como ser histórico, sujeito e autor do mundo, responsável direto pela construção de si mesmo, autor e construtor da sua própria essência pode vislumbrar claramente que só ele é capaz de agir intencionalmente sobre o mundo em que ele vive, alterando-o. Portanto, lutar por uma “qualidade cidadã” é dizer da luta por uma educação real, concreta, que viabilize ao aluno o saber acumulado pela humanidade; a proposta é clara: só supera os processos de dominação quem domina os meios instrumentais que se encontram nas mãos dos dominadores. Isso implica dizer, enquanto uma pequena parte da sociedade detiver o acesso aos meios do saber clássico, as possibilidades de prosperidade e avanço social, estão e serão inviabilizadas.

Dimas: Professor-pesquisador, pedagogo, especialista e mestrando em educação.

Dimas Cassimiro
Enviado por Dimas Cassimiro em 23/11/2008
Reeditado em 23/11/2008
Código do texto: T1299754
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