Luar do Conselheiro discursa sobre as insurreições do Nordeste

Sertão de Revoltas e Insurreições:

“Ó Pátria, o mais doce, santo e casto enlevo para aquelles que te amam, para aquelles que não são filhos pródigos, Pátria, onde estavas que não ouvias as súplicas, os ais desesperadores dos teus filhos que sofriam por ti? Para que consentias que se ludibriasse aqueles que tanto se sacrificaram para te salvar?! Estoicismo cruel! Indiferença Terrível!...”

(Alvim Martins Horcades, Descrição de uma viagem á Canudos, Pág. 25).

Isso é muito mais que um recorde, é com toda certeza um brado de quem quer ser ouvido e respeitado, o nordeste foi e é o maior celeiro de ideologias e revoltas de que se tem notícia!

Povo oprimido é pólvora, com fome é dinamite, é isso que representa a raça nordestina, gana de luta e vanguarda dos pensamentos libertários.

Os primeiros brados de guerra foram dados pela etnia negra em 1664, quando ocorreram as primeiras batalhas do Quilombo dos Palmares, no sertão Alagoano, chefiados pelo guerreiro Zumbi, e apoiados por negros capoeiras de diversas nações da África.

A resposta indígena viria só em 1687 com a Confederação dos Cariris, quando diversas nações indígenas do nordeste se juntaram para guerrear com o branco opressor, esta confederação culminaria em 1688 na Guerra do Açu, ou Guerra dos Bárbaros, onde perdemos diversas tribos indígenas.

Já em 1798 tivemos a Insurreição baiana, outro levante sangrento, mas estamos longe do final dos conflitos, pois um grito maior seria dado e um passo importante para o ideal que até hoje acalenta tantos corações, o separatismo.

O nordeste permaneceu independente de 1814 a 1817, depois fomos atingidos pelo peso da Confederação do equador em 1824, isso ainda não é nada, para um povo valente e caprichoso como o povo nordestino, pois além de tanto banho de sangue, o nordeste padecia de roubos e saques de suas riquezas.

Logo surgiu a revolta chamada Cabanada, em 1832, em Pernambuco, Alagoas e Pará, que dura até 1835, logo depois a Sabinada em 1837, e vamos lá... Tivemos na seqüência a Balaiada do Maranhão em 1838, a Libertação do Cariri em 1839, A chamada Revolta Praieira nove anos depois em 1848, o sertão passava por intensas contrações como se fora um bebê, prestes a nascer, mudanças nos costumes e mudanças políticas e filosóficas eram constantes. Em 1852 tivemos a insurreição denominada Ronco das abelhas, um grito de indignação do povo sertanejo que logo se alastrou da Paraíba, percorrendo Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Ceará e Sergipe, pois como podia o sertanejo, entender pra que corisco eles queriam registrar civilmente quem nascia?!, Por isso também fizeram guerra.

Tivemos em 1858 a Revolução dos Chinelos, contra o monopólio comercial na Bahia, depois em 1874 a Revolta do Quebra-Quilos, contra os impostos cobrados de forma excessiva, por isso Alagoas juntou-se à Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte novamente para lutar por seus direitos.

Já em 1897 inicia se a honrada Guerra de Canudos, a mais heróica e verdadeira tentativa de um novo sistema de vida em comunidade.

De 1912 a 1914 se dá a Revolução de Juazeiro comandado à distância por Padre Cícero, e lá foram os jagunços, chegando à periferia de Juazeiro do Norte, fazendo cair o governo de Franco Rabelo.

A Coluna Prestes, movimento de caráter comunista, passou por quase todo sertão em 1925, enfrentando combates e proliferando o ideal.

Isso tudo sem falar que desde 1920, o cangaceiro Lampião já fazia suas proezas, mas isso é assunto para o próximo capítulo.

Em 1930, havia duas comunidades independentes surgindo ao mesmo tempo no sertão nordestino, o Território Livre de Princesa, no sertão da Paraíba, domínio do coronel Zé Pereira, que com seus guerrilheiros treinados como todos os guerrilheiros do sertão (caçando peba e mocó.), davam combate as forças da Paraíba.

E o Estado do Caldeirão, Num pedaço de terra no Ceará, dado por Padre Cícero aos Beatos Zé Lourenço, e Severino Tavares.

Os eventos iniciaram-se em 1926 no Ceará, em Caldeirão, estendeu-se até 1938, em Pau de Colher, cidade de Casa Nova, na Bahia.

Em 1938 caem as últimas tentativas de comunidade independente; o povo do Caldeirão enfrentou aviões de guerra da Força Aérea Brasileira, posto que o segundo teste com nossos aviões fora feito nesta oportunidade... Contra vaqueiros e jagunços.

E então caros leitores (as), onde está aquela imagem que querem nos empurrar, de Brasileiro Pacífico e Ordeiro?

Claro que temos os eventos ocorridos regionalmente, em cada estado, município, de menor porte mas com igualdade de garra, na cidade de Uauá na Bahia, ainda neste século o povo foi às ruas e dinamitou o Fórum da cidade, pegou em armas e fez sua própria reforma agrária, derrubando as cercas dos coronéis e brigando de peito aberto nas fundações de sindicatos rurais.

Em Porto Seguro, Bahia, nas comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil, dia 20 de abril de 2000, houve um pequeno início de revolta, quando a Tropa de Choque da Polícia Militar da Bahia, agrediu índios de diversas tribos que participavam de uma conferência indígena na reserva de Coroa Vermelha; Estudantes, Militantes Sem-terra e partidários de esquerda responderam ao ataque e o que se seguiu foram horas de confronto; nesta oportunidade eu estava presente e participei do movimento, podendo sentir o peso da repressão do governo.

Logo depois foi em Salvador, num 16 de maio de 2000 inesquecível, onde sofremos a violência da mesma tropa que ao invadir a área Federal da Universidade Federal da Bahia e descumprir um mandato judicial, caiu sem pena em cima de estudantes que pediam a cassação do mandato de Antônio Carlos Magalhães.

E assim tem sido e continuará sendo no nordeste brasileiro, sertão de gente valente... Sertão de revoltas e insurreições. Somos sim um povo orgulhoso de ser contestador, brigador, um povo que não baixa a cabeça, como disse o poeta, “... do cabo da minha enxada não conheço coroné”

Luar do Conselheiro
Enviado por Luar do Conselheiro em 13/09/2008
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