UMA BRILHANTE PESCARIA

Prezados amigos pescadores:

Pescar é uma coisa divina disse um certo pescador, porque a própria Bíblia em uma de suas parábolas enfatiza a passagem de um pescador que jogou suas redes e trouxe para seu barco a alimentação para muitos famintos. Aliás, nos primórdios, foi dos rios que o índio - o primeiro habitante desta terra Tupiniquim – fazia seu prato predileto. O homem moderno vai mais além; já que sua paixão não se reflete apenas na deliciosa carne branca, mas principalmente na oportunidade que tem de sair das grandes cidades e aportar nas orlas dos grandes rios para este glorioso lazer, abrilhantado por momentos significativos; como o usufruto de uma boa companhia; o exercício da paciência para se chegar ao melhor peixe; o ensejo de produzir alegria em torno de uma roda de amigos de onde surgem as grandes estórias de pescador; o desfrutar de cantoria através do cancioneiro regional, através dos acordes de um violão, que num passe de mágica atravessa a madrugada e cultiva emoções com as músicas que embalam a nossa alegria.

Hoje não é diferente! Vejam o título (Uma brilhante Pescaria)! Sugere o brilho, a alegria, a empolgação, de se estar frente a uma natureza esplendorosa! Estamos num rio que brilha, daí a razão do seu nome: Rio Brilhante.

Não sabia o meu tio ... – há quatro anos atrás – que ao me trazer neste recanto mágico, rodeado de beleza e candura, estaria me empolgando a trilhar de grandes jornadas, solicitando a ele que nos proporcionasse momentos como estes – ao menos uma vez por ano – para que aqui estivéssemos junto de pessoas de grande receptividade, como é caso de fulano e beltrano, que antes mesmo de chegarmos já deram as suas boas-vindas, arrumando tudo, lapidando o “rancho” para que pudéssemos desfrutar de uma estada agradável, com uma recepção de fazer inveja através de um atendimento nota dez.

Não bastassem todos esses cuidados, estamos diante de um cenário de beleza sem igual. Esta casa simples, feita com as próprias madeiras da região, rodeada de árvores cinqüentenárias e de rara qualidade. Um “rancho” acolhedor, com uma vasta varanda para embalar nossas redes e para nos acolher do sol escaldante, com tela ao redor para nos proteger dos insetos, com uma mesa imensa de madeira maciça que serve para amparar nossas refeições; são elementos que traduzem uma pequena amostra desse recanto que antemão já deixa saudade em nossos corações. Á noite, quando o cansaço e o sono se aproximam, obrigando-nos a ceder pela escassez das nossas forças, contamos com dois acolhedores dormitórios que servem para repor nossas energias, para que noutro dia estejamos reavivados pela certeza de mais uma jornada. Não podemos olvidar também que esta acolhedora morada de pescadores, ainda possui em suas dependências uma cozinha que contém todos os apetrechos para a confecção de uma boa comida.

Esses predicados não são exclusivos da casa humilde e acolhedora. Há em volta dela os artifícios desenhados pelo nosso Criador. Alguém mais atento, quando visita meu tio ..., logo observa um quadro de uma pintora da região, no qual aparecem as maravilhas do lugar. Ao largo um grande rio; o glorioso Rio Brilhante, com águas cristalinas que emitem no seu espelho os desenhos simbólicos da alegria e, dessas águas abundantes, denotadas pela sua profundeza em contraste com sua calmaria; sai um braço que alcança e serve ao rancho ora decantado. Ali, no final daquele estreito, com águas emprestadas do rio colossal, como se fosse uma serventia do Senhor - evitando os esforços da distância - ficam os barcos à nossa espera, como se o rio imitasse nossos anfitriões, espichando suas águas para nos alcançar com seus privilégios.

Não bastassem todas essas sensações que o próprio ambiente reflete em nosso íntimo. O próprio trajeto nos leva ao delírio, pois não devemos esquecer a calorosa recepção com o almoço caseiro (delicioso) feito com carinho pela minha querida tia.... Não foram menos de uma dúzia de pessoas que ali chegaram por volta de meio dia, todos famintos, mas encontraram muita fartura e uma dona de casa receptiva e calorosa. O dono da casa, por sua vez, lembrando um Lorde inglês (como é de seu costume) veio nos receber na porteira da entrada de sua residência. Momentos assim, são raros nas cidades grandes, pois geralmente as pessoas estão muito ocupadas com as atribuições do dia-a-dia e se deixam levar pela pressa. Aqui, a palavra pressa foi riscada do dicionário, pois tudo anda como as pernas de um compasso, com desenhos singelos e calmos, como se o tempo parasse, pois naquela hora da chegada ninguém desejava dar um passo a mais, para mais desfrute daquela cortesia sem fim.

Mas era hora de caminhar. A jornada estava só começando. Os peixes nos esperavam. Caso esse bichinhos (que nadam) quisessem desfrutar de nossas iscas, faríamos deles nosso almoço. Caso não tivessem fome ou estivessem muito longe, não seria em vão nosso empenho; estaríamos entregues aos devaneios e à empolgação de estarmos presentes nesses dias tão significativos e que irão se eternizar em nossa memória.

Para finalizar esta simples homenagem que faço questão de registrar neste momento de grande alegria, rogo a Deus que ilumine essas pessoas que nos recebem com o coração aberto e que desde já ficam registradas em nossa mente, como gente de brio, que com suas mãos abençoadas, souberem fazer deste lugar uma maravilha que ficará impregnada na lembrança de quem tiver o privilégio de aqui passar e ver esta beleza deslumbrante.

Obrigado a todos que nos recebem e nos dão lição de companheirismo e de como receber bem. O pensador Charles Chaplin disse no auge de sua inteligência: “Pensamos demasiadamente e sentimos pouco. Necessitamos mais de humildade que de máquinas. Mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá”. Esse pensamento serve para ilustrar o nosso sentimento de homens da cidade grande. As máquinas que nos auxiliam em nosso cotidiano são necessárias, mas quando deparamos com o encanto da natureza e com a grandiosidade da alma de pessoas que nos recebem bem, temos cada vez mais certeza de que cada um de nós precisa distribuir bondade para que a vida se torne cada dia menos perigosa para a nossa sociedade.

Quando partirmos e deixarmos para trás todas essas sensações maravilhosas, estaremos seguros de que tudo valeu a pena e que estamos retornando embalados pela mistura de experiências que só irão somar no contingente de nossas amizades e, de antemão, nos colocamos inteiramente à disposição para que todos vocês possam visitar o não menos belo Rio Aquidauana.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 08/09/2008
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