Homilia na primeira missa do Pe. Marcelo Gualberto
Homilia para o XII Domingo do Tempo Comum - 22 de junho de 2008
Primeira missa do Pe. Marcelo Gualberto – Catedral de Uruaçu
Tema: Deus ama e ampara o sacerdote fiel
Queridos irmãos e irmãs!
Nossa Igreja se sente feliz nesta manhã, recebendo das mãos do neo-sacerdote Marcelo Gualberto a Santa Eucaristia que ele preside, com emoção, pela primeira vez. Um padre nunca esquece a primeira vez que celebrou o Santo Sacrifício. Que bela e sublime hora na vida deste novo padre.
As leituras deste domingo nos faz ver que muitos são os desafios a enfrentar. A realidade que nos cerca, nos enche de medo. Dois caminhos nos são apresentados: ou nos fechamos e abandonamos a missão ou confiamos em Deus e anunciamos de graça o que de graça recebemos, pois, valemos mais que muitos pardais e Deus dará testemunho a nosso favor.
A celebração eucarística de hoje vem nos fortalecer e auxiliar na superação de nossos medos, para não nos afastarmos do compromisso com Jesus e com seu reino. É um momento ímpar para o novo padre para renovar a Aliança com o Senhor no poder da coragem e da fé. João Paulo II quando foi eleito papa, na sua primeira aparição pública não hesitou em dizer: “non havete paura” – não tenhais medo. Diga o mesmo hoje, caro padre, “não terei medo”, pois Deus está contigo.
Nossa reunião dominical em torno da palavra e da eucaristia nos recorda que somos irmãos, filhos de um mesmo pai que nos olha e que está ao nosso lado como um forte guerreiro. Em meio às batalhas do dia a dia, Deus se declara ao nosso lado e nós o louvamos por salvar nossas vidas dia e noite.
A vida dos pequenos de Deus, banalizada pela violência urbana e rural e pelos desmandos políticos não respeitam os empobrecidos preferidos de Deus, encontra sentido na Eucaristia que é ação de graças e doação da vida de Deus para nós.
Os casos de violência contra os pobres que se sucedem a todo momento e que permanecem sem explicação e na impunidade, clamam aos céus e sabemos que Deus vê o nosso sofrimento e o nosso medo e nos encoraja para que mantenhamos firmes a nossa decisão de continuar anunciando o seu reino.
O texto do profeta Jeremias (20,10-13) é para nos encorajar. Em resumo, podemos dizer em alta voz: Deus está ao nosso lado. Deus ampara os seus ministros. O padre fiel nunca será esquecido pelo coração de Deus. O que Deus pede do sacerdote em nossos tempo é o amor e a fidelidade ao chamado. O sinal da fidelidade do padre podemos vê-lo no amor com que celebra a eucarista e na acolhida dos penitentes que buscam a confissão sacramental e no pronto atendimento aos doentes, às crianças, aos jovens, aos casais e aos idosos. O padre deve se consumir no amor pelas almas.
A carta de São Paulo aos Romanos (5,12-15) fala da abundância do amor de Deus derramado sobre nós. Cristo é o resgate de nossa vida. A morte agora não tem mais poder sobre a vida porque com Cristo somos vencedores. “... a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos.” (Rm5,15)
No Evangelho de hoje (Mt10,26-33) Mateus nos lembra o programa de Jesus. Quem quiser ser seu discípulo deve:
• ter coragem frente aos desafios. O padre deve ser o homem que na coragem da fé enfrenta os desafios, sabendo-se que a vitória é de Deus em nós. Os desafios, longe de nos sucumbir na depressão ou na recusa, deve nos motivar a buscar sentido para vida e para o mundo. O padre é a expressão dessa luta, sobretudo em nossos tempos quando a vida perde o sentido diante da força do paganismo pós moderno.
• anunciar em voz alta, de cima dos telhados, o projeto de Deus. O padre deve ser o primeiro anunciador-evangelizador e o primeiro catequista na paróquia. Temos que anunciar, no poder do Espírito Santo a grande ação de Deus neste mundo: a encarnação, a paixão, a morte e a ressurreição de Nosso Senhor; a única verdade que dá sentido a vida da pessoa humana sobre a terra.
Muitas vezes estamos presos ao que pensam de nós. É o famoso respeito humano. Temos medo de anunciar o Evangelho dentro dos novos e desafiantes areópagos dos novos tempos: universidades, ambientes culturais, meios de comunicação, mundo da política e da economia. Esses ambientes precisam de Deus. Não perca, caro padre, a oportunidade de anunciar a Boa Nova aos pobres de Deus que se encontram nesses areópagos muitas vezes encetados pelo vazio.
Jesus nos alerta que ao nos colocarmos a serviço do anúncio de seu reino seremos incompreendidos por muitos. O padre, muitas vezes, não é compreendido ao anunciar de maneira exaustiva e pujante as verdades de Deus. Muitos querem um padre “água com açúcar”, detentor de um discurso que não flexa o coração dos pecadores e empedernidos e soberbos.
• Anunciar o Reino de Deus é comprometer-se incondicionalmente com a vida e a dignidade das pessoas.
• Anunciar o Reino de Deus é compreender que a vida humana carece de amor e partilha e que este amor não é abstrato, mas, sinônimo de pão na mesa, educação de qualidade para todos, segurança para as pessoas irem e virem, moradia adequada e digna, trabalho, lazer e perspectiva de vida dignificada.
• Anunciar o reino de Deus é compreender que nossa fé tem que estar em estreita comunhão com nossa atividade cotidiana, com a política que fazemos todos os dias, com a busca de representantes que verdadeiramente governem para todas as pessoas.
• Anunciar o Reino de Deus é dizer a quem oprime que não tem o direito de oprimir.
• Anunciar o Reino de Deus é dizer a quem explora o trabalhador que não tem o direito de explorá-lo.
• Anunciar o Reino de Deus é entender que somos homens e mulheres chamados à vida e à comunhão.
• Anunciar o Reino de Deus, para nós que somos igreja de Jesus Cristo, é entender que não podemos ficar calados e coniventes diante das injustiças e opressões que acontecem à nossa volta. Se calamos, não temos o direito de nos considerar igreja.
• Anunciar o Reino de Deus é, portanto, fazer o caminho de Jesus que doou sua vida e nos resgatou a todos e morreu numa cruz em plena juventude, não porque o Pai assim o quis (Deus não poderia querer isso para um filho amado) mas porque “seu jeito honesto de denunciar, mexeu na posição de alguns privilegiados que o mataram”. O seu sacrifício além de profético foi expiador de todas as nossas misérias. O presbítero, o padre, é o servidor deste grande mistério que se renova para a salvação do mundo em cada eucaristia que se celebra no altar da esperança.
A Igreja do Brasil vive a acolhida das NDAGE da Igreja, propostas pela Conferencia dos Bispos. Nestas diretrizes retomamos a temática da V Coferencia de Aparecida que se aplicam muito oportunamente à vida dos presbíteros que são, de per si, discípulos e missionários. O padre discípulo é chamado por Jesus Cristo para com Ele conviver, participar de sua Vida, unir-se à sua Pessoa e aderir à sua missão. Ele entrega sua liberdade a Jesus, Caminho, Verdade e Vida. Assume “o estilo de vida do próprio Jesus”: amor incondicional, solidário, acolhedor até a doação da própria vida; assim compartilha do destino do Mestre. Todo discípulo é missionário. O encontro pessoal com Jesus Cristo impulsiona a promover o Reino da Vida, que diz respeito à totalidade da existência - a dimensão pessoal, familiar, social e cultural. A salvação de Jesus Cristo deve atingir as relações sociais entre os seres humanos, envolve a promoção humana e a autêntica libertação. Logo, o encontro com Jesus Cristo nos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo.
Estimado Pe. Marcelo, não tenhas meda... siga em frente. O padre diocesano é ostentador da espiritualidade do BOM PASTOR que dá a vida pelas ovelhas. Não tenho dúvidas que viverá intensamente isso, pois já está inerente ao seu perfil de homem de Deus. Não esquças da contínua intimidade com Jesus na Eucaristia que deves celebrar com ardor renovado todos os dias de sua vida. Também não se exima de estar com Ele no silêncio do sacráfio, onde fala sempre ao profundo do coração do padre e alí ele continua a realizar o mistério da redenção.
O padre precisa ser mestre na oração e nela buscar o sentido da sua missão e da sua esperança. Na Encílcia Spe Save, Benmto XVI nos diz: „Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me.[25] Se me encontro confinado numa extrema solidão...o orante jamais está totalmente só.“. Com a oração tudo pode ser mudado.
Agradeço a Deus por estar aqui contigo na sua primeira missa. Como é grandioso o dom de sua vida. O Papa São Pio X afirmava: "Cada vocação sacerdotal vem do coração de Deus, mas passa através do coração de uma mãe". Que Deus abençoe o seio de sua mãe, estimado Pe. Marcelo, que te gerou para a Igreja, para ser o servo fiel e amoroso.
Confio, nesta manhã, o seu sacerdócio ao Imaculado Coração de Maria. Que ela, Discipula Fiel, te ajude a passar incólume por todas as tentações e desafios que poderão vir sobre o seu ministério. Siga em frente, com Jesus Bom Pastor, serás um padre feliz e santo. Amém!