Despedida da caserna

DESPEDIDA DA CASERNA

Não foram apenas trinta meses, nem tão pouco trinta dias, foram trinta anos de uma vida dedicada a esta instituição, que me acolheu quando eu não passava de um adolescente de 17 anos, que sonhava ser útil a sociedade brasileira. Através de um concurso publico pude ver o inicio da realização deste sonho...sonho de garoto pobre que taciturno a beira da praia admirava o horizonte azul do mar alencarino. Aspirando um dia estar a bordo daqueles navios, que garbosamente singravam o mar, no cumprimento da missão primordial a que foram constituídos. Patrulhar a costa brasileira na defesa da nossa soberania e garantir o cumprimento da lei marítima nacional.

Na Marinha do Brrasil, aprendi os valores morais que dignificam a cidadania, valores que não se encontram nas páginas teóricas da psicologia ou da literatura. Mas que estão presentes de forma intrínseca na praticidade rotineira da disciplina e da hierarquia. Foram anos que pareciam intermináveis, hoje ao cruzar a linha de chegada, vejo quão rápida foi a minha passagem por esta honrada casa, que me ensinou as mais profundas lições, que guardarei enquanto na terra estiver encarnado. Deixarei aqui muitos colegas e bons companheiros que me abençoaram com sua amizade e fidelidade. Na Marinha conheci as mais variadas pessoas, aprendi aceitar os mais diversos comportamentos e idiossincrasias de homens que pensam que levarão para o tumulo o poder momentâneo que lhe são autorgardos, onde muitas vezes fazem uso desse poder de forma arbitraria e ditatorial. Tive a felicidade de ser comandado por Oficiais que marcaram as páginas da história da armada brasileira. Homens carismáticos como o CMG JACOB ENNES DA SILVA FILHO, meu primeiro comandante. E o então CC-ROGÉRIO EWERTON PINTO meu primeiro imediato, que nos meus primeiros passos ainda na Escola de Aprendizes, frisaram a nossa importância na Marinha e os valores que cada aprendiz iria conquistar para o desenvolvimento da armada. Logo que sai da Escola tive o privilégio de embarcar no Napaflu Amapá, onde incorporei o espírito de marujo, me engajei em todas as fainas marinheiras e participação ativa nos exercícios de adestramentos, realizados na rotinas de viagem ou de porto. Á bordo deste navio naveguei pelo amazonas e seus afluentes, e aos 19 anos já via e fotografava o que a maioria dos brasileiros, só verão nas coloridas gravuras impressas de alguns livros. Cada dia em que passei aqui, foram dias de intenso aprendizado, aprendi a viver de forma abastarda, mas também conviver de acordo com as regras econômicas, que nos foram impostas nos momentos de crises financeiras em que a nação exigia de cada um de nós o comprometimento de economizar material e gêneros nos quartéis. Aprendi a controlar o leme do meu comportamento nos mares revoltos, para não me deixar levar pela inconstância intempestiva do clima sombrio, que muitas vezes paira sobre a nau do espírito. Todos os bons momentos em que passei a bordo desta incansável nau foram à força propulsora, que estimularam a esquecer os pequenos dissabores que vez por outra, insistem ser a corrente contrária, a fim de desmagnetizar a nossa bússola para que fiquemos a deriva e não atracarmos em porto seguro. Mas lagradeço a Deus, porque até aqui ele tem sido o leme, que por estes trinta anos, me guiou de forma exemplar no cumprimento do meu dever e no acatamento das ordens dos meus superiores. Olho a esteira que deixo para trás, vejo nela a guia orientadora, para que minha posteridade não se perda quando tentar singrar as águas profundas nas quais naveguei.

Tive a felicidade de conhecer 16 países a bordo do NE Custódio de Mello, sob o comando do então CMG Fernando Luiz Pinto da Luz Furtado de Mendonça, que durante toda a comissão reservava um dia para almoçar com sua Guarnição, e compartilhar suas experiências e voga de comando, assim despertando em cada um dos comandados o respeito, admiração e confiança, que é o apanágio do Oficial da Armada. A Marinha me proporcionou uma especialização de reconhecimento mundial e de praticidade nos mais longínquos rincões do planeta. Ser Auxiliar de enfermagem é acima de tudo estar capacitado para despertar a confiança do médico nos procedimentos corretos na preservação da saúde, no alinhamento do bem estar Bio-Psiquíco do ser humano, a quem prestamos incansáveis serviços. Continuarei exercendo todas as atividades que aprendi na ativa, pois certamente estes altaneiros conhecimentos me farão alçar vôos diferentes na conquista de novos horizontes, mas deixarei marcado por onde passar a mensagem que aprendi com o CMG-Leoni Verlaine Madeira de Carvalho, “O HOMEM DEVE MARCAR O CAMINHO POR ONDE PASSA, PARA QUE NA VOLTA ELE NÃO SE PERDA”. Continuarei com a mesma disciplina e desenvoltura profissional que exerci nos últimos dez anos a bordo desta belonave chamada de Colégio Naval. Foi aqui nesta exemplar casa de formação dos futuros Oficiais da Armada, que me aperfeiçoei de alguns valores individuais que certamente serão como GPS a guiar-me no envolto mar da vida. Aqui tive o privilégio de ter como meu ultimo comandante o CMG-JOSÉ LUIZ RIBEIRO FILHO e o seu imediato CF- Sylvio Paul Froes, Oficiais que no exercício de suas funções despertam em seus comandados a confiança,respeito e lealdade, no cumprimento das ordens por eles emanadas e que em momento algum se esquivam de solucionarem os problemas disciplinares ou pessoais de sua tripulação.

A todos os meus ex-comandantes, diretores e chefes, a quem estive subordinado sob a égide de suas ordens, o meu muito obrigado. Aos meus pares, subalternos, minha família e em especial minha esposa, se não fosse o companheirismo, camaradagem, compreensão e paciência que a mim dispersaram, eu não teria atracado de maneira segura e sem dano ao meu costado. Que Deus continue abençoando a todos para que naveguem em mar de almirante e não percam o rumo nas inevitáveis tempestades.

Muito Obrigado a todos.

ARTONILSON MACEDO BEZERRA
Enviado por ARTONILSON MACEDO BEZERRA em 06/08/2008
Reeditado em 28/08/2008
Código do texto: T1116555
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