Ígneo Pã dos amores

A mais remota das tradições bíblicas aponta para a relação montanha/ Deus. Moisés encontrou a Deus numa montanha, a montanha traduz força e incolumidade e os antigos a adoravam. Foi aos poucos que o monoteísmo foi destacando o Deus pessoal da montanha, desvinculando-O de seus atributos originais de onipotência rumo ao nicho humilde de uma sarsa ardente que não queima; um Deus que é compassivo e justo, dedicado ao povo mais pequeno e não aos

dominadores.

Inicialmente Deus podia tanto mostrar-se compassivo como irado. Isso é evidente antes do aparecimento do Diabo que, mais tarde, em grego foi apodado de maligno - "poneró" -, aquele que causa dor. O Deus dos hebreus, quando traído reagiu na condição de terra que abriu sua boca para tragar os idólatras do bezerro de ouro, lá no monte Sinai - aí está a montanha imbricada às teofanias. Imagino que aos poucos se deu a evolução para separar o Diabo de Eloim: em Jó este já se manifestou como um anjo que está diante do trono em diálogo direto com Deus.

O Pã dos gregos é relacionado com as forças da natureza, a exemplo de um vulcão fumegante, cuspindo lavra e enxofre, cujo odor pode ser sentido à distância; não seria uma manifestação virtualmente maligna das forças naturais?, que ao dar curso a sua ira pode causar dor aos humanos que a ela sucumbem irremediavelmente?

Chegamos aos poucos a desvelar a deidade em nós mesmos. Uma deidade para abrandar nossa malignidade e tendência a produzir dores particulares e gerais. E que nossa natureza indômita se recolhesse a nosso coração ínfimo em amor para aí irromper em insondáveis errupções de ígneos amores perenes. Agora e para sempre. Amén.