discurso ao amor

ao eterno Amor

Amada, sei que a distância está entre nós, como uma galáxia está em relação à outra, ou quem sabe, muito próximas. Quero nestas poucas palavras quem me vêm ao pensamento agora, manifestar tudo aquilo que certo momento a vida nos proporcionou, ou ao menos a mim. Talvez esteja sendo ingênuo ao escrever estas idéias, mas, quem impede um espírito devidamente encantado pela beleza de uma criatura deposta sob a mesma natureza, de expressar o que lhe vêm ao coração? Apenas ele – o livre espaço entre o real e o imaginário – pode, enfim, definir e optar pelo que deve ser feito. E, no entanto, ele decidiu se exprimir assim, por palavras justificadas e devidamente impressas, e sujeitar a uma compreensão que, em sentido mítico, ver-te como uma semideusa – não uma deusa – porque criatura, mas, de descendência ou proeminência divina que extingue todas as profanações e idolatrias do coração e o santifica.

Sabe, tudo quanto naquele momento, ou a bem saber, naquele ano vivenciei, serviram de revolução espiritual e pessoal que até hoje, digo, até hoje, estão presentes em mim, as vicissitudes e emanações que formaram conceitos e semi-histórias, talvez, fantasiosas, de minha parte, mas, que são estas tais fantasias que substituíram e permaneceram até o momento, que como uma semente jogada à terra fértil e molhada, nasceu e prosperou – não deu fruto – talvez porque o tempo não chegou – e dependendo do que acontecer, depois que estas linhas chegarem aos seus sentimentos – este tempo nem chegará. (!!!)? Mas, nunca se pode dizer a uma semente jogada a terra: não morra quando a água lhe encharcar! Pois, essas palavras seriam inúteis, e a semente seguiria seu cretino destino – morrer e produzir – exceto, com um elevado percentual de água que apenas a apodreceria. No entanto, sem esta, permaneceria ali, viva, intocável, imortal.

Mesmo com o passar dos tempos, onde tudo pode se modificar, e realmente modifica-se, teriam motivos o bastante, para esquecer-me de uma meiga e singela garota. Magra, olhos arredondados e míticos. Mas, como acontecimentos que marcaram a história da humanidade, também ela, ficou marcada em minha história particular. Fez-me, muitas vezes, usufruir de um mundo que de um todo foge dos parâmetros desta realidade que nos situamos quando em vigília. Tantos momentos, que na escuridão da noite, pensava estar numa realidade divina contemplando as belezas de um Deus que imaginou perfeitamente as estações e as comodidades de suas criaturas onde a perfeição e a felicidade iriam irradiar a todos os que ali penetrassem. Estes, com certeza, se não foram reais – o que se pode acreditar – foram pelo menos, uma prefiguração do que poderia tornar-se, ou se bem dizendo, pode-se tornar.

No entanto, posso aqui expressar, talvez, implicitamente, que as águas que um rio recebe estas, têm destino certo, e não deixam jamais seu curso senão no objetivo que lhe é próprio – o mar – onde é seu lugar ultimo. Mas, no caminho, não se pode negar a sapiência do homem que envolto pela inteligência similar à do seu criador, cria artifícios para a sucção e aproveitamento destas para sua sobrevivência.

Em outras palavras e com mais objetividade. É verdade que, na maioria das vezes, pessoas que “a gente” ama sempre toma rumo “contrário” – a nossa vontade – e deixa sempre uma lacuna aberta a ser preenchida. Ninguém sabe como, quando e quem as preencherá. Sempre acontece algo como os poetas embebidos de criatividade ao escrever seus longos e sutis romances, onde sempre os vilões, muitas vezes, encharcados de amor, caem na escuridão de sua própria solidão ao ver o que mais imaginou ou sonhou para sua vida, “implantada” nos ramos tenros de uma árvore muitas vezes contrária aos seus sonhos.

Mas aqui fica exposta toda a minha real abertura ao amor, mesmo sendo este, estrangeiro e distante de alcançar – dada minha fragilidade em expressar o que sinto – para que pelo menos em sua “façanha” ele possa abrandar sua fúria, se é que posso falar assim, e debruçar sobre mim, seu eterno e magnânimo poder para, enfim, tomar meu rumo e viver senão na realidade, apenas em pensamento, o substrato indelével de seu favor.

É assim, ó querida que sem restrições meu coração se apresenta e murmura dentro de mim, e o que mais me faz sofrer – como uma dor que não encontrou seu “objeto” de moderação – é saber que as posições de classe e beleza nos separam. Mas, nada está de um todo perdido, que não possa dar algum fruto. No entanto, se entre nós isso for impossível, saiba ao menos como uma vida que teve seu início e mui rapidamente se separou,como uma fissura terrestre que separa os dois lados da terra deixando que se ama separado da amada. Mas, pode o amor se limitar a estas condições humanas?...

Joseiton Nunes
Enviado por Joseiton Nunes em 07/07/2008
Código do texto: T1069498