Perdoe
Perdoe este silêncio.., que não cala a voz da alma
Perdoe todas as dores, que desatinam neste grito que acalma
Perdoe minhas injúrias, meu bom Deus
Nas noites que te sentencio como o criador de meu tormento
Só tens uma culpa, Senhor, por ter criado em mim o amor
Essa dor travestida em encatamento
Perdoe minha amada, zeladora de minha felicidade
Perdoe o álcool, anfitrião tímido desta solenidade
Perdoe a falta de mentiras e as verdades compostas
Perdoe minha mãe, progenitora deste embrião maldito
Perdoe estas ruas, que mostram este caminho circunscrito
Perdoe esta falta de ato, esta descrença no fato
Perdoe estes cinco ou seis sentidos... e o desejo de ter no tato
Perdoe este sorriso descompassado, hora esperançoso, hora amargurado
Este meu terrível apego ao passado, perdoe...
Esta fuga para lugar nenhum, ou esta fuga para algum lugar onde nenhum outro fora
E sendo assim, perdoe meu egoísmo
De querer viver no Éden com uma Eva moldada por meus sonhos e não por minhas costelas
Perdoe minha demente ambição de unir dois corpos em um
Com a mesma magia que a dormideira une suas folhas ao toque do sereno...
Perdoe; esta minha fala tensa e protocolada
Esta vontade imensa de não ser mais nada
Perdoe as velas, que vigiam outros defuntos
Perdoe este não dizer ao bem querer
Que já consume todo teu assunto