DISSIDENTES

Temos por missão recolher cinza, amargos na boca, na voz, contemplar derrota em cada uma das tristes, persistentes agulhas no peito afiadas. No dia a dia, e na maldição de não haver para nos uma ilha, de seu controlo, oculta e por tanto salva.

Somos o lado feio do coração ainda não comercializado.

Ninguém escuta nossa voz, tampouco a foz do rio, por isso agora cantamos na aurora sombria, todavia não nascida que aguarda ardente futuro ser provisor.

Sei de estes aromas. Como tu, as manhas percorro ruas abandonadas. Vomito certeza e paixão tal como nosso amigo divisa fendas no balanço judiciário, enquanto tombado no recanto aguarda as letras no meio dia exato: um ponteiro o menos ou a mais.

O outono gosta dele, lhe quer bem, porque recolhe as folhas que descem no parque afligido e solitário (como ele o parque).

E as espigas queimadas que aguardam vigília, puderam ter sido ventos de ferro na suntuosa procissão dos que bendizem, castram e devoram almas de criança que para sempre permanecer hão no limbo aflito dos sonhos devastados.

Temos essa missão, tão necessária como às flores dar cabida, no peito e no jardim de Apes e no outro gêmeo jardim que de quando em vez tu abres para mim, que eu tenha lua na relva diante da casa. E acomodar ao fim a minha perdida morada.

Saímos derrotados no combate desde o injusto, e agora arrastramos cadeias, pelo dono concebidas, para exemplo presenciarem os que no por vir acreditam olfato, como crédulos absurdos num mundo de fantasia encerrado.

Temos, pois que cuidar ficar atentos a cada virada. Inventando uma nova bandeira, quando a nossa for roubada (acontece a miúdo,e a miúdo é demasiado).

Pois dos donos bem deveis saber, foram assim acostumados, desde miúdos a desfrutar a dor dos outros, que sempre é necessária.

Para dominar a força trocam integras palavras; apagam espírito ao nascer, cambiam os contidos quando já não lhes são adequados.

Escondem uma mão, de a outra no revolver emana o poder em papel ouro riscado. Brilha um pouco mais ao gosto para os olhos estimulados. E assim provam cadeias preciosas com pedras estimulantes, e esmerados corpos comprandos que nunca são diamantes, e objetos muitos práticos, que sacodem na cobiça dos que de todo tem tanta falta...

Assim que nós recolhemos aquelas cinzas tomadas em diminutos nacos, e os pedaços de mente sanam se ainda não foram muito adestrados.

Vivemos para isto, eles vivem por causa disto esgotar-se. Não é o mesmo, disse a companheira, desde logo não é o mesmo, nem parecido. Pois nos...Somos invisíveis às barrigas deformadas.

Voltaremos, quando convir, esquecer os nomes sagrados, em outros alfabetos escreveremos a historia que fora a sua causa queimada. As vidas de aquelas, aqueles que ao grande prazer renunciaram, reconhecermos como mártires em todas as batalhas.

Desenharemos novas cores, e novos lenços carregados de esperança. Milhares de alentos em eles serão: Floresta, Montanha. Cascata na garganta.

Surgimos, como não, derrotados no combate contra as eqüestres estatuas. E as normas estabelecidas, e maquiagem na pele, e as grandes luzes dos granes filmes pagados, ao poder pregados. Tormenta tem o nome da sua ira. Mas sabemos resguardar-nos...

As placas das ruas inclusive encontraram os rostos das nossas velhas paginas, e pronunciam em alto apelidos de homens, mulheres que por eles foram reprimidos no passado.

Nunca se cansam de formular hipocrisias, orgulhos inventados; no seu grande pulmão artificial suas novas estratégias para habilitar o falso, por todo o mundo combativo, espalham com animosidade.

Eles são assim, e nós... Que lhe imos fazer, somos contra assim submeter-se ao capricho de alguém considerar-se mais adequado. Adequado para aproveitar a força que as circunstancias lhe legaram, o mesmo a oportunidade de outra força encovar em sangue.

E por ser de naturais teimosos, agradecemos ser objetivos neste solstício envidraçado, como pensamento que sonha possível criar um dia chamado liberdade.

Pois eles dominam a mente, e nossa voz no peito ferido é aclamada.

Estamos condenados a viver na claridade à vontade impossível que possibilita vias de escape.

Por êxodo seguiremos exercendo estes ofícios santos, ate que sua morte do corpo nos separe.

Não é que muito gostemos, em realidade não temos,desejaramos, uma outra alternativa, uma tal vez mais comum forma de dignidade.