Homila de posse de Dom Adair na Dioecese de Rubiataba
HOMILIA DE POSSE CANÔNICA
Liturgia do 8º. Domingo Comum e posse de Dom Adair José Guimarães na Diocese de Rubiataba-Mozarlândia, dia 25 de maio de 2008 às 08:00 horas na Catedral de Rubiataba.
Diletos irmãos e irmãs,
“Que todo o mundo nos considere como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. A este respeito, o que se exige dos administradores é que sejam fiéis “(1 Cor. 4, 1-2).
A liturgia de hoje nos insere no tema da confiança. Amadurecer a confiança na Providencia Divina nos preenche da certeza que o Pai do Céu cuida de nós. A Providencia d´Ele nada mais é do que o seu amor permanente em nós.
O Papa Bento XVI nos legou uma excelente Encíclica sobre o amor. “Deus Caritas est” , Deus e Amor. O Papa afirma que 1 Cor 13 resume todas as reflexões que ele faz ao longo da sua Carta Encíclica. Este Hino ao Amor “deve ser a Magna Carta de todo o serviço eclesial” diz o Papa. “São Paulo ensina-nos que a caridade é sempre algo mais do que mera atividade. A ação prática resulta insuficiente se não for palpável nela o amor pelo ser humano, um amor que se nutre do encontro com Cristo”. Bento XVI insiste ainda que o amor não se deve restringir a dar ao próximo alguma coisa, o amor é muito mais: trata-se de um dar-se a si mesmo, de “estar presente no dom como pessoa”. Santa Teresa do Menino Jesus intuiu esta verdade. Quatro meses antes de morrer escreve num lindo poema: “Amar é doar tudo e doar-se a si mesmo” .
O amor não morre, pois vem de Deus. Podem as pessoas nos abandonar, até mesmo nossa mãe, como nos atesta o Profeta Isaias na Primeira leitura de hoje, mas o amor de Deus será sempre o amor fiel e pleno, capaz de nos preencher o profundo de nossa alma e renovar nossos sentimentos de paz muitas vezes quebrados pela algazarra dos sentidos em busca do transitório e do imediato.
De nós se requer como nos atesta a segunda leitura, a fidelidade ao amor. A fidelidade é uma virtude capilar, cada vez mais rara em nossos tempos de relacionamentos vazios e frágeis. O verdadeiro amor restaura os relacionamentos quebrados ou feridos pela quebra da fidelidade. Deus nos amarará sempre, pois seu amor é eterno. Os grandes santos e santas da Igreja e tantas pessoas puras e abençoadas de nossas comunidades são as testemunhas vivas deste dom Eterno de Deus. O sacerdote fiel ao seu chamado torna-se o vaso pleno deste amor que se derrama pela sua ação misericordiosa na acolhida das pessoas, no fraterno e sincero relacionamento com seu bispo e com seus irmãos de presbitério. O amor vivido e acolhido nos retrai da tentação da murmuração e da maledicência.
O nosso coração deve ser todo de Deus, indiviso. Descobrir o Amor de Deus e dele se alimentar deve ser a atitude permanente do nosso espírito. Santo Agostinho, ao se converter e aprofundar nas verdades divinas e no silencioso amor de Deus, assim se expressou: “Tarde vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco!”
A Palavra de Jesus no seu Evangelho nos orienta a esta descoberta do amor de Deus. As palavras dele, muitas vezes carregadas de eloqüência, também cede lugar à simplicidade da beleza sensível das coisas para atingir nossa alma. “Olhai os lírios dos campos...”. A verdade é que Jesus quer que identifiquemos os rastos dos sinais do amor de Deus na protuberância dos lírios e na vida dos pássaros que não dependem da economia de mercado e tão pouco da selvageria do capitalismo excludente para viver e dar beleza a vida.
A nossa confiança está no Senhor. Dele dependemos e nele devemos mover. Nossos projetos de ação pastoral e toda estrutura eclesial perderá sua razão de ser se pautar apenas na confiança em nossos esquemas mentais e nas capacidades meramente humanas. Uma ação pastoral pautada apenas na capacidade da ação humana não passaria de um neo-pelagianismo dos novos tempos, simplesmente fado ao fracasso como temos visto em muitos ambientes eclesiais de nosso Continente. A causa de tais fracassos se deve ao fato da ação eclesial prescindir da Graça Divina. “Sem mim nada podeis fazer”.
Neste dia solene e importante para a Igreja da Província de Goiânia e para toda a Igreja do Regional Centro Oeste da CNBB, tomo posse da amada Diocese de Rubiataba-Mozarlandia. Trata-se de um momento ímpar para mim e também de expectativas para toda a Diocese. Venho para viver com esta Igreja o meu lema: “faça-se a tua vontade”. Nas mãos do Senhor Deus coloco-me todo inteiro, sob o estandarte da intercessão de Nossa Senhora da Glória , para fazer a vontade divina como Bispo, pastor e irmão de todos indistintamente.
Hoje esta Igreja de Rubiataba-Mozarlândia acolhe seu novo bispo. Tenho consciência de que o grande Pastor, na Verdade, é o próprio Jesus Cristo. Recordo-me do Salmo 22 que me acompanha na oração pessoal desde quando iniciei meu ministério presbiteral: “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará”. E o mesmo Jesus nos atesta no Evangelho de João que Ele é o pastor que dá a vida em favor de suas ovelhas e prepara seus escolhidos para pastorear.
É tarefa nossa, como discípulos, esforçarmos por ouvir sua voz e aprender todos os dias a realizar sua vontade. A Igreja segue o Bom Pastor, agradecida, pois sabe estar segura sob os seus cuidados e nos seus caminhos mesmo se devesse passar pelo vale escuro e atravessar as sombras da morte.
É normal e compreensível que a tomada de posse do bispo suscite indagações acerca de como irá desempenhar sua missão, com quais propósitos ele chega, qual será sua metodologia pastoral e seus projetos a serem desenvolvidos. Isso não podia ser diferente, já que a Igreja se insere dentro de uma realidade humana, onde as medições são sempre efetivadas pelos esquemas também humanos, mas sob a orientação da Graça Divina, e requer do bispo uma orientação que vise a objetividade no campo da fé, da moral e dos costumes. Em primeira mão o que posso dizer a todos é que serei o bispo de todos, indistintamente. No dinamismo da paciência histórica irei aprender a ser bispo com vocês.
De certa forma, a normatividade pastoral e eclesiológica já traça os caminhos da ação do bispo na diocese. Este deve responder com equilíbrio e segurança sobre a celebração da liturgia, a realização da catequese, sobre as vocações sacerdotais, sobre as pastorais e movimentos eclesiais, sobre as relações da Igreja católica com outras Igrejas e comunidades cristãs e outras religiões. Ademais é atinente ao escopo do seu ministério dizer uma palavra firme e segura acerca de situações gritantes da sociedade, a saber: a pobreza e a violência, a exclusão social e os rumos da política econômica, os direitos humanos e a vida em situação de risco, o agir moral da pessoa e da coletividade, os desafios que a ciência põe diante da fé.
Do bispo, geralmente, se espera muito, quer na vida da Igreja quer na sociedade. Certamente em nossa Diocese não será diferente. Tenho consciência disso e me proponho dar de mim o que for possível, dentro de minhas limitações, para responder aos apelos que o atual momento nos impõe. Tenho consciência também que nem sempre é possível fazer milagres. O bispo é, dentro da dinâmica do Povo de Deus, um servidor a exemplo do Cristo, pobre, casto e obediente, entregue totalmente à vontade do Pai. Faça, Senhor, a tua vontade e não a minha. Portanto, preciso da ajuda e da compreensão de todos para que eu possa acertar mais do que errar.
O meu trabalho terá como meta construir o caminho de santidade e da comunhão. Somos chamados a viver em comunhão. Afirma o Documento de Aparecida que “não há discipulado sem comunhão” . Quero estabelecer uma profunda comunhão com todos na Diocese. A pastoral de conjunto será a expressão dessa comunhão. Quero o empenho de todos: presbíteros, diácono, seminaristas, religiosas e leigos para que nossa Igreja continue sendo marcada pela busca da comunhão. Vamos trabalhar juntos. O bispo estará sempre aberto à escuta dos anseios de todos. Mas a solução e o enfrentamento das situações difíceis serão sempre a partir da comunhão e do colegiado. Não pretendo acertar ou errar sozinho.
No meu coração de bispo e pastor, reservo um lugar especial para os padres, meus diretos colaboradores no ministério da ordem episcopal. Farei tudo para zelar bem dos nossos padres, as jóias prestimosas da Diocese, para que eles cuidem bem do povo a eles confiado. Junto com vocês, diletos presbíteros, vamos fazer tudo para que nossas comunidades e paróquias sejam profundamente alegres, fraternas, fiéis ao Senhor e possam testemunhar com alegria o amor ágape a exemplo das comunidades primitivas do cristianismo. Portanto, acolher bem o povo, ser exemplo de padres que cultivam uma vida espiritual interior intensa, nunca será demais. Acredito no poder da oração e o exercício do meu ministérios será sempre a partir do sacrário. A capela da Casa Episcopal será o refúgio do bispo para sua oração pessoal e para falar com Deus dos problemas e conquistas da Diocese e de cada um dos filhos e filhas a ele confiados que celebram a dor ou as vitórias.
Durante meus 21 anos de padre, sempre estive próximo dos seminaristas e envolvido em atividades no seminário. “O seminário é coração da Diocese” . Envidarei todo esforço possível em favor do trabalho da Pastoral Vocacional. O melhor incentivo às vocações é o testemunho do bispo, dos padres e das pessoas religiosas e consagradas. È dever de toda a Diocese promover ardorosamente as vocações através de ações concretas e pela atividade orante permanente em favor do despertar vocacional. É mister que as comunidade se interessem pelas vocações e ajudem na manutenção da formação dos futuros padres e na formação permanentes dos mesmos.
As religiosas e as consagradas podem contar com o meu apoio e incentivo. A presença de vocês nos trabalhos da Diocese é de suma importância. Terei toda a alegria e empenho em acompanhá-las. Contem com o bispo de vocês.
Aos agentes de pastoral, coordenadores dos trabalhos pastorais e dos movimentos eclesiais deixo o meu incentivo de pleno apoio às iniciativas de trabalho e comunhão de vocês com seus párocos e responsáveis. Quero, juntamente com a coordenação diocesana de pastoral, acompanhar os que coordenam os trabalhos diocesanos e auxiliá-los no processo formativo.
A Sagrada Escritura, no Livro do Eclesiástico, nos diz: “Vamos fazer um elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. Estes são homens de misericórdia; seus gestos de bondade não serão esquecidos” . Quero fazer aqui a memória de tantos que deram suas vidas em favor da Igreja do Centro Oeste, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, membros do povo de Deus. Bem próximo de nós, desde os idos do início da Prelazia de Rubiataba, podemos lembrar Dom Juvenal Roriz, Mons. Lincolin e tantos outros padres redentoristas, missionários aguerridos que andaram por estas terras semeando amor e esperança. Através do Pe. Fábio Bento, provincial dos padres redentorista, quero externar meu profundo agradecimento a esta Congregação, tão cara à história de nossa Diocese. Obrigado por tudo e queremos continuar contando com vossos préstimos. Leve o meu abraço de gratidão ao Conselho da Congregação.
Quero agora externar o meu afeto e gratidão, em nome de toda nossa Igreja do Centro Oeste e de nossa Diocese, a Dom José Carlos, Bispo Emérito desta Diocese. Como bom pastor, ao longo de quase três décadas ele se consumiu em favor da Diocese. Continuará residindo conosco. Peço aos padres que o chame para celebrar nas paróquias, para ministrar o Sacramento da Confirmação e palestras em encontros. Reze por nós, amado Dom Carlinhos. Conte com seus filhos sacerdotes e comigo. O bispo emérito tem muito a contribuir com a Igreja. Parabéns pelo seu efusivo trabalho pastoral.
Quero agradecer a cada padre, ao Diácono Weber, às religiosas, lideranças pastorais, seminaristas e a todo o Povo de Deus da Diocese RUMO pelas orações, acolhida, ajudas, orações e pela presença. Em breve desejo visitar cada uma das paróquias. Obrigado a todos que se envolveram nos preparativos da minha chegada, especialmente Dom Carlos o Pároco da Catedral, Pe. Vanildo, o Reitor do Seminário Menor, Pe. Diomar, Pe. Kincas e demais padres da Diocese, religiosas, seminaristas e leigos. Agradeço, além dos senhores bispos, Dom Washington Cruz (Arcebispo Metropolitanto de Goiânia), Dom José Silva (Bispo Emérito de Urauçu), Dom Afonso (Bispo de Luziânia), Dom Heribert (Bispo Prelado de Cristalândia), Dom Messias (Bispo de Uruaçu), seminaristas, diáconos que vieram de outras dioceses para tomar parte neste momento importante da história de nossa Diocese. Obrigado por vocês terem vindo. Obrigado também aos membros de minha família que sempre me acompanharam. Muito obrigado por vocês existirem na minha vida. Nas pessoass do Prefeitos Municipais de Rubiatada, Sr. José Luiz, de Rubiataba e do Senador Marcone Perilo, quero cumprimentar os demais prefeitos, deputados, vereadores, juízes e promotores.
Permita-me agradecer à Diocese de Uruaçu que se faz presente neste momento importante da história de nossa Igreja Particular de Rubiataba-Mozarlândia. Obrigado Dom Messias, zeloso bispo de Uruaçu, obrigado queridos padres, diáconos, seminaristas, religiosos e religiosas, povo de Deus da Diocese de Uruaçu. Obrigado a todos com quem trabalhei nas Paróquias Catedral de Uruaçu, Santo Antonio de Mara Rosa e Nossa Senhora Aparecida de Minaçu. Sou muito feliz pela presença de vocês. Conto com a oração permanente de cada um. Nossas dioceses sempre foram unidas e, com a minha nomeação, queremos estreitar ainda mais os laços que nos integram.
Aos meus irmãos evangélicos, presentes nesta celebração, quero abraçar com todo afeto e ternura. Obrigado pela presença de vocês, pastores e membros. Manterei com vocês uma cordial fraternidade, sempre aberto ao diálogo e à busca da unidade pela oração e pelo empenho em prol do bem comum.
Agradeço aos radiovintes e internautas que acompanharam de longe esta celebração, estando tão pertos pelos caminhos do afeto e da fé com o povo da nossa Diocese. Rezem por nós. Aproveito o ensejo para transmitir o meu abraço afetuoso aos doentes e idosos e a todas as pessoas sofridas e angustiadas pelos dissabores provocados por certos fatos da vida. Sintam-se em comunhão de oração com o bispo de vocês.
Ao concluir, reitero a minha fidelidade ao Evangelho de Cristo e à sua Igreja, bem como ao Sucessor de Pedro, o Santo Padre o Papa que me nomeou bispo. “Quem vos ouve, a mim ouve”, disse Jesus.
Todos os cargos provisionados canonicamente na Diocese estão renovados “ad tempore”. O zeloso Pe. José Modesto Ariel continuará como nosso Vigário Geral.
Concluo com as palavras do salmo de hoje: “Só em Deus a minha alma tem repouso,/ só ele é meu rochedo e salvação” . Consagro o meu trabalho de bispo, dos presbíteros, do diácono, das religiosas e dos ministros e agentes leigos a Nossa Senhora da Glória, Padroeira da Diocese. Oh! Maria Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. Amém!
NB.: As notas de rodapé (referências) não foram editadas como estão no Word