Aprenda a escrever um artigo cultural = Dave Le Dave - e de sucesso

 

O título antes de tudo

A minha marca é clara: não adianta escrever para si mesmo. Isso seria apenas um diário, um solilóquio. E, considerando os níveis dessa plataforma, o resultado está longe de ser Shakespeare. São, na verdade, devaneios levianos.

 

Por isso, minha principal recomendação é que, em primeiro lugar, a sua preocupação seja com um título instigante, que chame a atenção e use o mínimo de caracteres possível. Isso é essencial para que ele caiba em qualquer dispositivo — computador, celular (onde os títulos sempre aparecem inteiros), ou até uma smart TV.

 

A preocupação com uma boa manchete que convide o leitor ao texto, de forma concisa e certeira, é fundamental.

 

Conteúdo sem substância é espuma

Um artigo cultural não é nada — ou se perde em polêmica vazia — se não tiver conteúdo.

 

E, com certeza, a classificação que muita gente dá está errada, porque o que muitos chamam de “artigo cultural” não é nem artigo, nem cultura.

 

Por isso, a primeira coisa que faço é pensar em um título instigante. Esse é meu método criativo. Só depois disso eu penso em como posso embasá-lo com referências culturais, filosóficas, cinéfilas, literárias, com tudo o que possa enriquecê-lo — tudo que tenha a ver com cultura.

 

Caso contrário, não passa de uma redação vazia. Talvez digna do ENEM, onde tudo precisa caber em 30 linhas, como uma receita de bolo com introdução, desenvolvimento com tese e antítese, e uma conclusão.

 

Eu não acredito em um pensamento que caiba numa folha ou num slide de PowerPoint. Por isso, gosto de dizer que sou um tecelão de ideias, alguém que organiza ideias e conceitos de diferentes autores e os transforma num texto original.

 

Escrevo como penso

Escrevo muito. E escrevo como penso — sem tempo de corrigir. Mas tento respeitar, ao máximo, as regras gramaticais, vírgulas, enriquecer o vocabulário.

 

Depois, tenho uma grande preocupação com o tamanho dos parágrafos, a tipografia, os títulos e subtítulos.

 

Como não tenho tempo de criar tudo isso do zero, peço para o ChatGPT criar para mim e fazer uma revisão geral no texto — sem modificar em nada o conteúdo e a essência.

 

Porém, mesmo assim, às vezes ele diminui meu vocabulário ou banaliza explicações. Então eu tenho que fazer uma revisão da revisão.

 

 

O conteúdo está acima da ferramenta

O mais importante é o conteúdo e a experiência de vida de quem opera a ferramenta.

 

Não há milagre, como dizem que a filosofia foi um “milagre grego”. Milagre porra nenhuma. Eles herdaram anos de tradições de reflexão da Índia, da China, do Império Persa, das religiões.

 

Sempre houve a tendência do ser humano de sol(d)ar os mistérios da existência. Por isso, é um grande erro e uma imprecisão dizer que o surgimento da filosofia foi um milagre.

 

Afinal, foi na Grécia que também surgiram a democracia, o teatro, a matemática, os Jogos Olímpicos.

 

Conhecimento não é vírus

E não pense que o conhecimento é absorvido por osmose. Não existe uma epidemia ou pandemia de conhecimento que se contrai como um vírus ou doença, só pelo convívio com gente interessante.

 

No máximo, você adquire bom gosto — e repete as verdades dos outros como um papagaio.

 

E há muito disso por aqui: gente que pensa o pensamento dos outros, que não consegue escrever sem recorrer a citações, como se estivéssemos em um TCC da faculdade.

 

Acredito, sim, que é justificável postar conteúdo para divulgação de trabalhos acadêmicos e científicos.

 

Porém, se você quer criar algo genuíno e autêntico, cuja vontade nasce de você mesmo — e não de uma instituição —, então você tem que se preocupar em ser original, inteligível e compreendido pelo maior número de pessoas.

 

Esse é o caminho para escrever um artigo cultural de sucesso.

 

Esse ainda não é o lugar ideal

Como dizia Álvaro Garnero, no fim do excelente programa de viagens 50 por 1, no qual ele exercia com maestria sua arte de bom vivant:

 

“Mas esse ainda não é o lugar ideal.”

 

Parafraseando: esse ainda não é um artigo cultural de Dave LeD Ave.

 

Assinar com originalidade

Para carregar minha assinatura, um texto precisa ser bem escrito, mas também precisa conter multidisciplinaridade, versar sobre diversos assuntos — por mais díspares que pareçam ser.

 

Cultura erudita com videogame. Filosofia com cinema. Música e poesia. Quanto mais coerência houver ao harmonizar temas distantes, mais rico e original se torna um texto.

 

Essa é a minha marca: reorganizar, de forma original, ideias díspares que estão à disposição no meu universo polifônico de conhecimento.

 

Não há atalho

Não há atalho. É sentar a bunda na cadeira e ler. Parar no sofá ou na poltrona do cinema e assistir a filmes. Estudar.

 

Ver palestras, aulas magnas. Absorver o máximo de conteúdo possível, com a maior abrangência que você for capaz.

 

E, claro, mesmo quem não é intelectual tem obrigação de ter um mínimo de conhecimento geral, o suficiente para não ser ignorante.

 

Como dizia a única coisa boa do pornô-filosófico Olavo de Carvalho — embora eu imagine que ele não teria a verve artística para escrever um título assim, e talvez isso tenha sido sugestão do editor do livro

 

O caminho do estilo

Seguindo esses passos, você poderá escrever um bom artigo cultural de sucesso — e, com um pouco de sorte, quem sabe até consiga emular o meu estilo.