O MISTÉRIO DA PALAVRA
- estudo sobre o poema original da autora publicado em 19Dez2007:
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/785185
“CARTA
(poema-sugestão)
Walnélia Pederneiras
Não foi escrita na idade da pedra
nem transformada em pó.
Lembrança de uma saudação.
Recente, tornou-se reticente...
Foge ao meu alcance,
é virtual, não impessoal.
Ó poeta, poetinha,
quero-a de volta, escrita pronta
ou rascunho,
mas de teu próprio punho.
Guardo palavras soltas
que vêm à lembrança
em mantras
Recentes e tão reminiscentes.
Aniversariava o meu corpo
na época do escrito.
Envolto a um sorriso,
laço prateado,
chegou-se de pronto.
Mas foi-se,
ponto a ponto.”.
Análise crítica específica, a pedido da autora:
O original não é um poema bem lavrado por três razões:
1. É circunstancial, remete a uma situação ou circunstância dada. Normalmente os ditos poemas são muito subjetivos, porque vinculados a estes elementos pessoais.
2. Acaba que pretendendo fazer um poema e não um bilhete de resposta (o que seria a natural linguagem de retorno), a autora acaba fazendo um texto imbricado, hermético, pontual (pelo fato ocorrido) e que contém antecedente a que o leitor não tem acesso.
3. Neste tipo de poema dificilmente se consegue alguma transcendentalidade. Não vai além do descritivo, que açambarca somente o denotativo; não se consegue chegar ao sentido conotativo, que é próprio dos versos que contém poesia (normalmente metáforas) e que formam um poema apreciável de elementos estéticos e com figuras de linguagem outras, principalmente as metonímias.
Fiz-lhe algumas emendas de forma no texto, tentando melhorar o ritmo e o abrir mais à compreensão do leitor. Houve alguma redefinição de versos e a utilização detalhada de pontuação, tudo no sentido de ajudar a compreensão. Mas ainda assim não se chegou à boa Poesia.
Mas sempre vale como exercício intelectual. É assim que se chega ao bom poema.
E se fizesses a abordagem sobre o temário através do uso da prosa, nas espécies CARTA ou mesmo a CRÔNICA? Acho que seria mais viável chegar a um bom efeito estético...
Nunca esqueças que o poema é um formato de apresentação da palavra em seu vestido de festa.
Nem sempre a Poesia é o ferramental correto para determinado tema a ser abordado. A regra é que a linguagem usada para responder a uma missiva é a prosa e não a poesia.
E não é por não chegar à Poesia que o poeta vira proscrito. Não é feio ser escritor. Nem todos nasceram para a Poesia.
Mas o que mais me parece alto estilo, em Prosa, é a lavratura que provém de um escritor que também verseja, aquele que exercita a Poesia. O texto é bem urdido, com uma tessitura plena de mistério e o uso freqüente dos dois sentidos: o denotativo e o conotativo.
O corrente, em minha cabeça, é que um razoável prosador tem de ser, antes de tudo, um bom poeta. É o mínimo... Principalmente o escritor que aborda o lado amoroso da criatura humana.
E aí me vêm à cuca o Mario Quintana com o seu peculiar subjetivismo e a visão solidarista, fraterna, da figura humana.
Neste sempre prepondera o verso solto, fraseal, sem nenhum pejo de parecer, à primeira olhada, apenas prosa. Mas, nele, a Poesia fica olhando pra nós através de um “Oh!” bem grandão.
Também a poesia pura que promana da autobiografia de Pablo Neruda, em “Confesso que vivi”...
Lembras de Saint-Exupéry, de Richard Bach ou de nosso Euclides da Cunha, em Iracema?
O que fazer se estou viciado em Poesia?
- Do livro, em elaboração, CONFESSIONÁRIO – Diálogo entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2007.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/785390