O FÁCIL EM POESIA

Acaso pretendas crescer em Poética, muito cuidado com o comparativo, porque este exclui a Poesia, derramando o texto para a prosa poética, aquela urdidura textual que não contém a beleza da codificação: a voz do mistério. O cortejo da fácil popularidade e o sucesso no seu tempo (tipo Michel Teló e outros, na música popularesca atual) exclui, também, a descoberta da colmeia que fica escondida dentro do tronco, na floresta, onde está depositado o inesperado doce mel. Fazer clientela em Poesia – utilizando uma linguagem consumista – é como pretender, nas eleições do processo político, o voto do pessoal da periferia urbana e o dos mal aquinhoados de escolaridade, mesmo que dotados de farta intuição. A Poesia não tem este condão: o de abrir diálogo com os acostumados ao fácil. Creio que o poeta é o único artista que não tem a destinação de ser descoberto em sua época, em contemporaneidade corrente. Acaso isto ocorra, resta negada a etimologia grega do POETÉS: o profeta, o antevisor, o mago que está além de seu tempo de viver. E então o vate passa a ser meramente um homem ao qual a Poesia ainda não logrou descobrir, como quer Mario Quintana: é ela que nos descobre e não nós que a iluminamos. Perdão, mas eu desejo te ver "Poeta" (com P maiúsculo) e não meramente um exemplar cortejador da mídia eletrônica. Não vás com muita sede ao pote. Beberás água turva...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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