A CODIFICAÇÃO NO TEXTO
Em criação literária – como em quase tudo na vida – não pode haver absolutismos que excluam qualquer outra posição na compreensão do escrito. A proposta textual tem de estar aberta ao leitor, simplesmente porque ele é o destinatário e consumidor. Especialmente em Poesia – para o autor – não poderá haver "obrigatoriedade" ou o "dever" de procurar identificar o(s) personagem(ns) e tentar esclarecer o conteúdo do texto, particularmente no poético. A codificação é desafio que resta posto para o leitor, devido ao sentido conotativo das palavras, especialmente a necessária constatação, no poema, da existência de figuras de linguagem. Caso estas inexistam, não ocorrerá a magia da Poética. Serão versos sem Poesia. O receptor é que deverá "abrir os códigos" que a codificação verbal sugere. No texto artístico – como o que contém a prosa poética – também se apresenta este desafio interpretativo para o leitor, mas o texto é mais "aberto", de mais fácil compreensão. Na crônica – espécie da categoria literária Prosa – em que praticamente não há codificação verbal, os personagens são mais fáceis de serem identificados, porque este, quando existente, é PROTAGONISTA do assunto ou conteúdo. No conto moderno, especialmente no final do mesmo, no chamado "choque" que aparece no miniconto de vertente americana, a codificação volta a aparecer com força, e, muitas vezes, deixa o leitor “a ver navios". No conto tradicional, predominantemente no legado dos russos, a codificação é bem menor, prevalecendo o lírico, consequentemente, nestes ocorre muito pouca dificuldade de entendimento e interpretação da proposta.
– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4501925