O COMPARATIVO EXCLUI A METÁFORA – Versão II

(poeta-autor e poema são metáforas polivalentes)

Para alguns dicionaristas, a metáfora é, numa definição simplista, "uma comparação abreviada" e se constata a sua ocorrência – na prosa ou no verso – pela figuração de linguagem. No entanto, resta excluída a metaforização, se houver a utilização do comparativo (por extenso), com o uso, por exemplo, dos vocábulos "como", "feito” ou "tal". Neste caso o autor do texto optou pela comparação, descartando o metafórico.

Enfim, abre mão da linguagem figurada, que é regida pelo sentido conotativo do qual as metáforas e as metonímias são exemplares formais. E, se utilizado o comparativo, dificilmente teremos instaurada a Poesia como elemento de gênero literário e identificador do texto apresentado.

No caso do descarte da metáfora, optando-se pela comparação, chegaremos somente à Prosa Poética, com suas metáforas monovalentes, horizontais ou rasas. Portanto, dificilmente se chega à poética plena com o uso do comparativo, o caminho é o da metáfora, através da palavra e a imagética por ela conformada.

Nem sempre o poeta-autor consegue alçar-se como o “eu poético”, que nada mais é do que o seu alter ego (o outro eu) que ganha preeminência no processo de criação e engole (ou descarta) a possibilidade de que o conjunto verbal lavrado Poesia se transmute como se fora realidade em suas entranhas de possessão.

O alter ego, é um dos vários eus que convivem na mente autoral e, por vezes, é tão individuada a sua presença que adquire personalidade própria. Ali estão a invenção, a farsa, a fantasia, a felicidade e o sonho, pretendendo veracidade naquilo que afirmam, tornando-se ícones da fantasia que lhe dá corpo e palavra.

O alter ego, na maioria das vezes é um hóspede incômodo e autoritário que se hospeda na psique do poeta-autor, plasmando um personagem que não admite comparações.

Parece-me ter sido isso o que ocorreu com o poeta português Fernando Pessoa, que, constatando a intensa presença deles no seu processo criativo, especialmente quando a proposta poética discutia algum assunto ou temática peculiar a aquele personagem autônomo, criou o vocábulo "heterônimo" para identificar e/ou rotular aquela figura que nascera e se alçara dos estudos freudianos que trouxeram ao mundo fático (real) a ciência da psicanálise.

O poeta Fernando Pessoa (1988/1935), contemporâneo do neurologista e psiquiatra Sigmund Freud (1856/1939), acatou e aproveitou para seduzir e deveras lançar ao mundo literário este novo personagem haurido no exercício do sentir diretamente ao laboratório permanente da psicanálise.

Quanto à conclusão, o chamado "fecho de ouro" de um texto pode vir a ser aberto ou fechado, o que equivale a dizer: menos ou mais hermético, dependendo da natureza do assunto ou conteúdo e, primordialmente, depende do talento do seu autor, de modo a que o poeta-leitor possa recepcionar e levar a bom nível o valor estético da peça textual naquele momento recepcionada.

Um bom fecho para o poema é sempre um achado. E é perfeitamente possível que o efeito estético apanhe de jeito e comova o ouvinte até às lágrimas, especialmente no território lírico-amoroso e/ou na impotência de transfixação de situações, nos largos domínios do épico-histórico-social.

Sempre é aconselhável que a conclusão exclua a personalização ou pessoalização, enfim, o poeta-autor não deve interferir utilizando-se da primeira pessoa, dentro do texto, especialmente no Poético. Não é aconselhável que o pronome pessoal da primeira pessoa sempre tenha primazia ou protagonismo, na linguagem poética.

Em Poética, tanto o poema quanto o poeta-autor, devem ser elementos lúdico-metafóricos. É este o sucesso a ser alcançado: o receptor, o expectante, o necessitado da palavra espiritual, se apossam do que não é de sua autoria, de sua propriedade, mas passa a ser de sua posse, como se o poeta-leitor fosse, efetivamente o seu dono.

Na Poética e pela Poesia, antes de morrer ou ser morto, finamo-nos de amor ao Outro.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA, 2013/2023.

https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=4458232