A GESTAÇÃO DO POEMA

Tenho dúvidas em reconhecer que a INSPIRAÇÃO teria capacidade para criar o poema, de fazê-lo. Acredito nela como fator desencadeador: centelha original vital, uma descarga elétrica inesperada... É ela que desencadeia o processo intuitivo. Ocorre no primeiro instante da tradução textual, aquele em que a palavra traduz-se emocionalmente. Uma catarse intempestiva. Tão forte e expressiva que no início do processo – há mais de cinquenta anos – ao garatujar o meu poema, aumentava a temperatura do corpo e as mãos suavam muito, a ponto de umedecê-las tanto que colavam momentaneamente no papel sobre qual corria a caneta... O segundo momento de criação é feito de transpiração, o trabalho intelectivo aportado sobre o texto que surgira quando da intuição traduzida no texto recém-criado... Porém, é este segundo momento de criação – A TRANSPIRAÇÃO – que vai fixar a apresentação formal do poema. E isto pode acontecer logo após o primeiro alinhavo textual ou levar meses e até anos. Tenho um poema (Dádiva e Colheita, publicado em http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/212909) para o qual foram necessários vinte e quatro anos para dá-lo por pronto e vir a figurar em livro solo. E isto me faz diferenciado da maioria dos poetas, tendo em conta o contexto do processo criativo. Em verdade, faz mais de quarenta anos que me sinto apenas um leitor compulsivo e um denodado pesquisador do fenômeno que dá origem à linguagem poética. E este proceder faz com que tenha imensa admiração e respeito para com a Arte Poética. Fazer um bom poema é tarefa muito difícil, que exige muita dedicação e empenho. Fico com Sully Prudhomme, poeta, prêmio Nobel de 1901, ratificado pela genialidade de Thomas Edison e Einstein, luminares da centelha criacional: 10% de inspiração e 90% de transpiração... Boa dica pra quem está começando...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4436401