OBJETOS POÉTICOS SURREAIS

Não tive nenhuma intenção de polemizar e, sim, alertar o autor para o inusitado: chamou-me à atenção a coloração "azul" das alamedas, qualificativo usado em relação às árvores... E fiquei pensando que não havia coerência poética, devido à realidade terrena das "alamedas": em verde, a pleno viço; esverdeadas, na primavera; amarelecidas, no outono; pardacentas, no duro inverno. Claro que a memória autobiográfica coloriu de azul as "TUAS ALAMEDAS" e isso confunde e/ou exclui o leitor comum por falta de verossimilhança. Porém, poderíamos ter, também, a cor azul das flores das árvores, na primavera, predominando no ambiente... Os objetos poéticos sempre permitem a coloração que os seus autores desejarem criar neles, desde que sejam aproximadamente críveis, contenham algo de identificação plausível, por exemplo: o rosa pálido das paineiras, o amarelo dos ipês floridos, o rosa forte dos jacarandás, a lua branca, a lua escura, a lua vermelha, a lua amarela; o cavalo branco, negro, lobuno, tostado, azulego, etc. O conjunto verbal das "alamedas azuis" serve para a confecção de um poema totalmente surreal, personalizado – tal as telas de Picasso, na pintura... Lembro-me de um autor que trouxe à tona, em Poética, um cavalo ROSA e outro AZUL, que depois se os soube alados: dois Pégasus, mitologia, portanto... Sim, é assim mesmo: a imaginação inédita, original, é sempre a tônica da Poética, pois esta lida com CÓDIGOS inimagináveis e a ESTRANHEZA – o inesperado...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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