O ESTRIPAR DOS TEXTOS NA INTERNET
Tenhas muito cuidado com esse estripar dos textos de terceiros, partilhando-os em (aparentes) versos não autorizados, mesmo que lançados em sites de relacionamento social – não especificamente literário. Se é texto em prosa poética, versos não são, e nem esta foi a intenção artístico-formal do autor, ao dá-los à luz. A obra poética é feita com palavras, e estas se compartilham, se unem, por vezes indissoluvelmente, porque existem para conformar ideias e expressá-las sugestionalmente com algum conteúdo de entendimento. Não podem (e nem devem) ser extirpados do contexto formal da eventual comunicação que se estabelece. O restante do itinerário do texto é por conta do receptor e ocorrerá na cuca de quem o recepciona. O tamanho do caminho não é o autor que traça, e, sim, o leitor. Quando, ao publicar na net, o leitor/recriador o esquarteja a seu vezo e gozo, muitas vezes o estripa e a peça não mais respirará como proposta estética. Muitas vezes o leitor abusado transforma o canto da cotovia num zurrar de um ogro, mesmo que sem intencionalidade. O amoroso abraço ao texto pleno de encantamento pode – pelo compartilhamento e partição – produzir efeitos de mau gosto estético...
– Do livro QUINTAIS DO MISTÉRIO, 2012.