CADA LOUCO COM SUAS FIXAÇÕES

Cuidado pra não estenderes a questão da CONOTAÇÃO – o uso do sentido conotativo – à expressão prosaica, nas espécies da Prosa (conto, crônica, artigo, etc.), que é o que me pareces estares a afirmar na abordagem anterior. A linguagem conotativa é regra pertinente ao gênero poético – para a boa Poesia, aquela com “pê” maiúsculo – se é que existe mesmo a boa ou a má poesia. Prefiro dizer que há versos COM POESIA e versos SEM POESIA. Para a Prosa Poética também vale o uso do sentido CONOTATIVO, porque nela também devem aparecer alguns pitacos de POESIA, visto que sem o conotativo traduzido pelas figuras de linguagem, especialmente a METÁFORA, não se caracterizará a poeticidade como expressão de linguagem. Na Poesia, a metáfora é POLIVALENTE, e, usualmente, na Prosa Poética, a metáfora é MONOVALENTE, no dizer do Professor Massaud Moisés, a que me afilio como humilde seguidor, apesar de discordar dele em alguns pontos, como a sua afirmada subjetividade traduzida pelo uso do pronome “eu”. Entendo que, na quadra do modernismo contemporâneo, há que se despersonalizar o verso, evitando o uso do “eu”, velando o EGO do autor, e diminuindo a sua presença no discurso poético. Já bastam os “eus” de Fernando Pessoa no pré-modernismo português, apesar de suas multifacetadas personalidades ao ponto de ter de cunhar até o neologismo “heterônimo” para identificar os seus múltiplos personagens. E estes, só para argumentar, terão voz no sentido conotativo, quando temos a Poesia, ou, em sentido denotativo, quando a voz não pretende a figuração. Se bem que os personagens de Pessoa sempre têm algo de poético... Afinal, em Pessoa sempre prevalece o poeta, mesmo que no limbo com o filósofo, como é o que ocorre em Álvaro de Campos, seu heterônimo mais imbricado, e, pela codificação de linguagem, a meu ver, o mais fascinante...

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2012.

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