IMAGEM E PALAVRA FALAM POR SI
Tudo o que nos ocorre no decorrer da vida passa a ser constitutivo de nossa história pessoal, e, por sermos contadores de histórias, tentamos levar adiante o que nos ocorre em nível pessoal: a matéria da vida transfigurada... Porém, o leitor – que é a quem a obra se destina – nada sabe disso, porque não pode adivinhar o que é dos domínios do subjetivo, e nem aferir a veracidade da reflexão assentada no(s) fato(s), simplesmente porque não a conhece. O que chega a ele é a proposta estética assentada na imagística e no que está escrito, e é isso que norteará o seu juízo preliminar. No caso de uma capa de obra (principalmente de livro de poemas) que não tenha brilho e nem expressividade – ressaltarão as ausências emocionais e outros elementos na psique do receptor – perde o autor por suas subjetividades no(s) fato(s) que deu(ram) origem ao concepto gráfico, de falar à sensibilidade do seu (potencialmente) adquirente e leitor da peça poética em exposição. É uma questão de merchandise, de marketing. E isso é o que, num primeiro momento, VENDE A PROPOSTA, na gôndola da livraria ou na do supermercado, porque a peça já se descolou de seu autor e passa a viver autonomamente. Assim também é a IMAGÉTICA do poema, no caso em que o autor não consegue ver o receptor e, sim, o fato que deu origem à pretensa peça estética. É a chamada possessão de autoria. Reconhecer esse autonomismo da peça é um desafio pra quem escreve. O autor experimentado sabe que a história originária é importante somente como fato gerador da centelha (original) da criação, e, reconhece que aquela que mais importa é a que flui da proposta em palavra e imagem, possibilitando a recriação do mundo espiritual do leitor porque ele é o destinatário do que o poema diz ou pretende dizer... Não se deve esquecer que no caso de CAPA DE LIVRO, esta é o invólucro do produto. A imagem que dimana dela é o rosto estético do que nele está contido. Apesar de que o poema tenha nascido pra viver ao léu dos humores do mundo, ele possui a sua cara material lavrada na capa do produto, ainda mais no caso de que não apareçam outras imagens ou figuras, no miolo da obra...
– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/3708162