FOI-SE A RIMA, O RITMO NÃO...

Agradeço o retorno às minhas páginas, o qual me agrada pelo teor intelectivo e abordagens teóricas, exceto a referência ao uso da "métrica" e “rimação” como características de tua poesia... Essa forma de conceber versos é relato formal do passado recente, resquício da formulação poética do período histórico do classicismo. Aponto como ‘recente’ porque são poucos os versejadores que a formulam dentro dos parâmetros originais, como no soneto clássico, por exemplo... Afinal, o Modernismo está no Brasil, como movimento ainda não concluído, há cerca de noventa anos. A poesia rimada e metrificada, nos dias de hoje, é dèja vu... Tu virás a constatar a ‘metrificação” deliberada, pensada, em mínimos momentos de minha poética, porque sou um inveterado cultivador do verso livre, que se caracteriza como o exemplar da poética da contemporaneidade. Porém, mesmo que tenhamos, no modernismo, rompido com a silabação fônica, a rima, e outros quetais, não rompemos com o RITMO – porque este é da essência da Poesia como linguagem, em todos os tempos... Talvez não tenhas usado a palavra "MÉTRICA" em sentido estrito, e, sim, para dizer do ritmo que cadencia os teus versos... O poeta diletante (perdão!) sempre acha que o verso sai pronto, mas este é apenas o primeiro momento do processo de criação poética, a INSPIRAÇÃO, em que prevalece a emoção, e é o que ocorre com todos os iniciantes. Estes não fazem (e muitos teimam, reiteradamente em não querer fazer) o segundo momento de criação, em que predomina a intelecção, a que chamamos "TRANSPIRAÇÃO". Clarice Lispector e Cecília Meireles, na poesia feminina, são belos exemplos disso... Vais notar, também, que nestas autoras e outros modernistas como Quintana e Bandeira, o ritmo poético aparece na maioria de seus escritos, em prosa e verso. Retratam o andamento da vida moderna: rápida, descompromissada com os arcabouços formais. Também aqui se aplica o norte tutorial: a Arte copia a Vida... O poeta, como agente estético, tem de estar assente no "seu tempo”, olhos fitos no futuro, também nos aspectos de forma e formato. Porém, como em Arte (a tônica é a liberdade para criar) as regras são para serem rompidas, cada maluco – com suas manias – concebe versos e dá forma a eles a seu bel-prazer...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.

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