A FORÇA DIALÉTICA SENTENCIAL
“FANTÁSTICO
Mírian Warttusch
Nem sempre a chuva é boa emissária,
se no coração instalou-se o caos.
As tramas da vida interferem em nosso
condicionamento, isolando-nos na solidão
de nós mesmos. É o vazio de tudo, que
nos preenche surpreendentemente,
ainda que pensemos estar vazios.”
– remetido via Orkut, em 26/04/2012, 03h33min.
Mírian, amada! Tu já te apercebeste – nesse clima informal de “recados” – que jogaste à rua um belo exemplar em Prosa Poética? Nele há bons elementos de Poesia, principalmente a ocorrência do que chamo "texto sem figurativos diretos de linguagem", ou seja, sem que ocorresse a codificação de linguagem diretamente, por força dos vocábulos que compõem o texto. E cabe ressaltar: sem o aparecimento do sentido CONOTATIVO, na peça. E isso é exceção em Poética. Aqui vale o imagético-sugestional, em que palavras simples, usuais e sem rebusques, criam naturalmente imagens e se erigem como frutos dessa sugestão. Não há a deliberada vontade autoral em criá-las como figuras de estilo. Este tipo de linguagem tutorial, aforismática ou sentencial, remonta ao séc. XVIII, ao tempo de Göethe, e tem importantes peças consagradas de lá até o séc. XX. Prevaleceu na Europa Central, especialmente na Alemanha. Há um juízo ou sentença moral breve que toma conta do conteúdo e o joga à cabeça do receptor. Bem diferenciada do universo das imagens que a Poesia neolatina (e, particularmente, a sul-americana), versada nos idiomas espanhol ou português, consagra e estereotipa como modelos estéticos destas plagas. Eu já havia notado em alguns dos (teus) textos essa tendência. No entanto, devido aos (teus) cuidados de forma e de formatos com figuras imensas e assuntos muito próximos ao mundo das realidades, a palavra em Poesia tende a perder força, a subsumir-se por rarefeita proposta. Pode ser que incida a minimização da intuição e da espontaneidade, a que alguns chamam "inspiração". Opino que necessitarias soltar mais esse lado mais prosaico, para o azo de teu estro e em nosso benefício, como leitores. Claro que, neste caso específico, o que exercitaste foi o surgimento (coloquial) de um INTERTEXTO espontâneo em cima de minha proposta no “POEMA A LA NERUDA”, que obteve publicação em FORÇA CENTRÍFUGA, poemas, de 1979, e editado em http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/2604152 . No entanto, só eu tomei conhecimento deste fato, e isso não tem a mínima importância. O que realmente importa é que a peça urdida pela instigação emocional e intelectiva, por força dialética (do poder) da palavra - no poema - produziu uma peça autônoma de bom nível. São estranhos e inusitados os caminhos da Poética.
– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/3634831