DO FAZER POÉTICO
Chega o texto e me invade a vontade de falar sobre ele, num estudo crítico. O autor promete: tem apenas vinte anos. Estudemos os desafios da Palavra:
“A VIDA DO MEDO
Rômulo Sales
Todos os passos com muito cuidado
Como se fosse melhor o silêncio
A sorte agora deve estar do meu lado
O lugar é que está abandonado
Dessa vez eu sei
Mas do que foi antes eu já nem lembro
Por todos os lados existe um pouco do passado
Para cada um existe um caso com história de sofrimento
Passar a pista pode ser arriscado
Mas se eu não tentar como é que eu vou ficar sabendo?
Pode ser que encontre o melhor encontro no futuro
Futuramente eu só sei se continuar vivendo
Dentro dum espaço claro ou escuro
Fazendo tudo o que eu tiver direito
Nada vai ser fácil ou exato seu houver o medo
Por medo de seguir algumas coisas dão errado
Por medo de acreditar as versões dão errado de novo
Ou continuam sempre do mesmo jeito.
– Publicado no Recanto das Letras em 07/06/2008.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/1023527
Código do texto: T1023527”.
Poetamigo Rômulo! Saúde e Paz. Noto é que toda a tua lavratura é feita num relance, num todo de ‘inspiração’ – tanto no verso como na prosa – ao comentares algo. Claro, tu só tens vinte anos, e é perfeitamente compreensível que convivas com uma imensa angústia e inquietação, que podem ser as vertentes dos versos e prosas. Seria interessante que viesses a ter algum método de trabalho intelectual para que a tua escritura pudesse se tornar mais plausível de vir a ser reconhecida. De teres chance de te tornares um escritor comentado, lido. Talvez, pela precocidade e fácil criatividade, tenhas como negar a regra: vires a ter obra bem falada e fama para o autor antes de sua passagem deste plano. Essa é a regra: nada esperar do futuro em termos de sucesso, e, sim, trabalhar sempre, produzir, e muito... Tenho que a um primeiro momento de criação – o da inspiração – a este deve se seguir um segundo momento criacional – o da transpiração. O primeiro é regado pela emoção, o segundo, reg(r)ado pela razão. É desta dicotomia que vai surgir o bom texto, a comunicação que pode vir a perdurar no tempo por sua UNIVERSALIDADE, SABEDORIA E VERDADE. Empenho e atenção no ato da leitura (muitos livros lidos), discussão sobre tudo aquilo que fala à cuca do autor-receptor, vai permitir a riqueza vocabular, o acréscimo lingüístico e estético. Tens muita vida pela frente, ao que tudo indica. O Senhor Tempo está a favor. Usa-o com comedimento e alegria, sempre refletindo sobre fatos, atos e ações. O resultado te surpreenderá. Experimenta escrever esta peça “A VIDA DO MEDO” em frases, e não em versos. Aliás, o bom texto – tanto na prosa como no verso – é capaz de surpreender a todos, inclusive ao autor...
– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/3607577