A DOÇURA DO VERSO AMOROSO
– Sobre “DESEJOS e BEIJOS SEM LAPIDAÇÕES”, de Meg Fonsant, publicado em http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/477459
O texto me pega de jeito, me comove, e dele e por ele, o amor sacralizado, pousado na boca do analista, vai dedilhando o cursor da sensibilidade, oportunamente. É a congeminação estética que se abarca sobre mim.
Eis um belo exemplo de confessionário. Do amar possessivo, amoroso, desejoso do outro.
Esta fruição feminina (do Amado) é o que mais impressiona a quem lê. A linguagem masculina somente nos grandes bardos chega a ter esta entrega.
Poeticamente, com toda a carga da abrangência do termo, ainda não estamos frente ao gênero POESIA, mas é um formoso embrião do futuro poema, a materialidade formal do gênero, na atualidade, em versos brancos, sem rima.
A diferença é que no confessionário naturalmente intimista há um diálogo com a figura do amante idealizado, mesmo que existente no plano do real, o que é a usual, humana e patética transfiguração da matéria da vida.
Na poesia da contemporaneidade, e, tenho pra mim que em todos os tempos, ocorre a impessoalização dos personagens, minimiza-se a possessão, dando-se síntese e sugestionalidade à proposta poética.
Por último, é a transcendentalidade do fecho – verso ou estrofe – que vai fazer com que o poema adquira autonomia, confraternidade, deixando de ser pessoalizado para chegar ao coletivo, mesmo que mantida a voz amorosa das figuras que se interpenetram no eu poético do autor.
Também, para finalizar esta tentativa de interpretação, é necessário que se registre que, sem o confessionalismo, dificilmente se chegará ao lapidar verso de amor, aquele que pervive em nós, cochichando ao ouvido.
Algo como as vozes de Dom Pablo Neruda, Florbela Espanca, Cecília Meireles ou Vinicius de Moraes, exemplares altissonantes da doçura do amar ou do que dele se sabe e pode ser dito, em Poesia, que é sempre linguagem diversa da do lugar comum da vida.
Tudo o que se canta ao ouvido dos amores é efêmero, elétrico, voltagem que nos mantém vivos. Porque nem a morte nos salvará do amar e suas clamorosas crucificações.
Quer melhor exemplo do que a Bíblia e suas seqüelas desejosas de comportamento?
E a entrega de ontem, sob lençóis e nuvens de saudade, não merece o mesmo e glorioso canto? É neste que o poeta se absolve.
E mais do que nunca se diz conforme, na crucificação do Amar.
DESEJOS e BEIJOS SEM LAPIDAÇÕES
Meg Fonsant
Com os mesmos dedos que cavam,
revolvem a terra e fertilizam
Quero cravar-te os dedos.
Afundar-me em ti,
até encontrar tua Alma.
Lamberei meus dedos lambuzados
de ti, felizes por ti...
Sorvendo e lentamente degustando
tudo o que é teu.
Terei por fim alcançado
o que te manteve enclausurado,
triste e febril.
Tenho faro de Bloodhound, e agilidades
de felinos Heiters
para cravar em teus instintos...
Para alcançar-te com camaleônicas e suaves mãos.
E nos beijos volverás aos delírios.
Sugando a língua,
arrancando de teu corpo
outros sentidos...
Alcançando-te a alma
do passado em que sofrias.
Farei ao teu presente a poesia,
na duração que desejares, desse beijo.”
– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2006.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/323532