DESAFIOS DA TRADUÇÃO

“05/05/2011 06:57 - Helena Frenzel

Em verdade, parece razoável se ter em conta que um poema traduzido é uma nova peça de arte, tão autêntica quanto a original, porém não é a mesma." Percebi isto ao tentar, há tempos atrás, traduzir uma prosa poética de minha autoria do Português para o Espanhol. Esperava não ter muitos problemas, dada as semelhanças entre as duas línguas em questão. E qual não foi a minha surpresa ao deparar-me, ao final, com duas peças completamente distintas! Sim, tradução é um processo bem difícil, e exatamente por isso é tentador. Gostei de tuas considerações a cerca da lírica de outros países. É verdade! Alguns poemas considerados Poesia em sua língua original, hoje eu também questionaria, segundo os critérios que até agora pude extrair de teus escritos. O mesmo se deu ao tentar traduzir um 'recado de amor' de minha autoria do Português para o Alemão. Haja sensibilidade e inspiração para trabalhar a nova peça derivada da original! Ainda bem que era só para uso doméstico, familiar, digo. Um abraço fraterno!

Para o texto DA TRADUÇÃO DE POEMAS: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2937559."

Caríssima Helena! Saúde e paz! Que estejas bem com os teus afetos, aí nessa Alemanha de tantas tradições literárias, filosóficas e históricas, lembrando Goethe, Hölderlin, Brecht, Nietzche, Hegel, Schopenhauer, Rilke, etc. Gostei muito e me senti prestigiado com tuas considerações sobre o artigo em pauta. Nele, deixei o meu coração quase confuso falar sobre essa temática de difícil percepção – quanto mais em análise focal – pra quem não fala fluentemente o inglês, o francês, o italiano e o alemão, idiomas referenciais para a humanidade, em Poesia. No espanhol me dou bem, mas nesses... Falou mais alto a intuição, com a responsabilidade creditada a um inventor esgaravatando a teoria literária e seus conexos, sem a formação acadêmica específica. Mas é como sempre digo em todos os ‘perfis literários’: a minha abordagem não é a magisterial, e, sim, a do veterano escriba que deseja compartilhar suas dúvidas. Frente ao fato de que moras no exterior há muito tempo (como revelas em dado momento), teu depoimento e exemplos personalizados é de alta valia. Sobre a tradução e o trabalho daquele que verseja, peço que adquiras o livro "CADERNOS DE TEMUCO", de Pablo Neruda, Bertrand Brasil, 1998, 260 páginas, o qual tem o prefácio de Thiago de Melo, com uma belíssima explicação sobre os desafios que o tradutor enfrenta em sua tarefa. Vejo que esse desafio de versão idiomática te atrai. Vais ficar encantada com o que T. M. aborda. Realmente, o texto vertido para outra língua é outra peça de arte literária, que não a genuína. Isso fica ainda mais perceptível quando o objeto da tradução é o ‘poemeto’ – formato típico da Poiesis da contemporaneidade – o qual contém em si a magia, a especificidade das expressões dialetais, o cadenciamento rítmico próprio do gênero poético e as peculiaridades subjacentes ao idioma em que foram originalmente concebidos os versos. Cada criador com a sua carga de significantes e significados. A palavra é sopro em que se decalca o rastro.

– Do livro TIDOS & HAVIDOS, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2959376