O ELEMENTO DE PLASTICIDADE

Chega aos meus olhos um pequenino brinco. Por ser bem elaborado, contém apreciável leveza, típica característica do poemeto. Vejamos:

”SENSIBILIDADE

Amarilis Pazini Aires

Bouquet de miosotis,

Vestido branco,

Te olho...

Pedra safira.

– em 22Mar2011, 07h29min.”.

Na peça, ao nos toparmos com o galicismo "bouquet", parece aconselhável que o vocábulo viesse a ser substituído por "buquê", aportuguesado, coerente com a singeleza dos versos, para que não soe afetado, pedante. Além do mais, abre-se ao receptor, pois são poucos os leitores que conhecem a palavra na grafia de origem, se bem que mais sonora e formosa para o leitor culto. Em Poesia, sempre que houver o vocábulo correspondente no idioma pátrio, é aconselhável que se dê preferência a este. Ritmicamente, o poemeto soa leve como um haicai, mesmo que com construção silábica diferenciada. No entanto, lhe faltam as necessárias figuras de linguagem: alguma metáfora para construir a necessária transcendência poética. A autora, numa ótica e assunto tipicamente femininos, trabalha com a cor branca como elemento plástico. Curiosamente, foge e passa para a cor azul – no verso final – com "Pedra safira". Já que o elemento sugestional é a cor, por que não usar o mimetismo do olhar numa linguagem objetiva, já que o poema utiliza uma "metáfora de imagética"? Assim, os versos seriam: “Nos olhos.../ pedra safira.” Haverá, então, coerência com o simbolismo das cores: o poemeto cresce e se abre, por força da plasticidade... Além do mais, vela-se, com a eventual supressão, a presença do implícito autor (eu) com o pronome oblíquo “Te”, que sempre funciona mal no início do verso. O poema de poucas palavras é sempre uma pérola, difícil de lapidar, por sua pequena dimensão. Pedra nascida para brilhar...

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2863784