Cultivo de Orquídeas

Certo dia, um grande amigo – biólogo – e apaixonado por plantas convidou-me para visitar uma exposição de plantas ornamentais aqui em Brasília. Isso já tem um tempo, e não lembro bem detalhes da organização dessa exposição. Nessa época, eu não tinha, absolutamente, nenhum interesse em observar ou conhecer plantas ornamentais, pois, apesar de achar muito bonitas, não era o tipo de evento que eu iria. Como éramos e somos, até hoje, muito amigos, eu aceitei o convite – apenas para agradá-lo.

Lá estava eu, boquiaberto, pasmado com tanta beleza, tantos detalhes, tantas pessoas que investiram a vida inteira para cuidarem de cactos, de rosas, de palmeiras, de bromélias, de bonsais, de orquídeas, entre outras maravilhas.

Uma hora depois, sabem onde fui parar?

Pois é, no mesmo evento, estava ocorrendo um mini-curso sobre Cultivo de Orquídeas e, é claro, ele insistiu e eu fui lá fazer esse mini-curso. Estava um pouco espantado com tanta euforia, tanto interesse e ansiedade das pessoas para que o curso começasse. Hoje, não lembro quem eram as pessoas que deram o curso, não lembro quanto tempo durou, nem o que aconteceu para que eu não perdesse cada minúcia daquele espetáculo de devotamento. O que aconteceu naquele dia, durante todo o evento, e durante o curso, é que nunca mais vi as orquídeas com os mesmos olhos.

Assim que cheguei em casa, anotei tudo que aprendi e depois redigi esse texto para não esquecer as lições aprendidas. Agora quero dividir essas lições com aqueles que apreciam essas belas e surpreendentes flores. Espero que sejam úteis.

CULTIVO DE ORQUÍDEAS

As orquídeas são plantas ornamentais muito bonitas, geralmente pequenas e que dão flores de todas as cores, o que dá a elas o status de serem ótimas para decoração e cultivo. Para pensarmos no cultivo de orquídeas apresento dois grupos dessa plantas que têm diferentes formas de cuidados:

Tipo 1. As que classifico como tipo 1 são as orquídeas originárias do exterior. A característica principal é que possuem bulbos (batatas) na base de suas folhagens que servem para armazenar água, uma vez que vêm de lugares onde não chove comumente, existindo um período significativo de tempo seco.

Tipo 2. As orquídeas de tipo 2 são aquelas que não possuem bulbo (batata) nas bases de suas folhas. Isso significa que não precisam armazenar água, uma vez que são originárias de regiões onde chove constantemente.

Ao longo da evolução essas plantas se adaptaram a um jeito diferente de sobreviver. Elas sobrevivem nos troncos das árvores. São plantas que crescem na altura com o objetivo de se proteger dos insetos, do sol e de tudo que compromete sua existência. As orquídeas não são parasitas, ou seja, não se utilizam de recursos das árvores (nutrientes) para viver. Elas preferem a copa, onde constantemente tem sombra, onde suas raízes podem respirar, onde podem obter nutrientes do vento, dos animais e insetos que voam e que deixam alimentos no seu habitat.

As orquídeas estão sempre nas alturas. Nas florestas são buscadas para cultivo, onde são retiradas do seu habitat. Dessa forma, suas condições de vida para uso em residências deve ser o mais próximo possível de suas condições na natureza. Isso considerando os dois tipos, a saber, as que têm o bulbo e as que não tem o bulbo.

Principais cuidados:

Água:

As orquídeas devem ser molhadas de preferência de manhã, para que não fiquem a noite com muita água, o que deixa mais sujeita a fungos e bactérias. Não precisam ser regadas nas folhas, nem nas flores, pois o único meio de absorção de água desse tipo de planta são as raízes. Folhas molhadas também são portas de entrada para doenças.

Orquídeas do tipo 1 (com bulbo): As orquídeas com bulbo utilizam a água que é colocada até o fim, armazenando no bulbo o que vai precisar quando o vaso estiver seco. Uma espécie de economia desenvolvida ao longo do processo de evolução. Para isso, em casa, ela deve ser regada menos, ou seja, deve-se molhar o vaso até escorrer por baixo e deixar secar. Deve-se molhar o vaso novamente só quando o mesmo estiver muito seco. Isso dá uma média de 2 a 3 vezes por semana em lugares quentes.

Esse tipo de orquídea (com bulbo) não suporta vasos comumente encharcados, o que faz com que suas raízes apodreçam com o excesso de água, fazendo com que a mesma morra. Isso porque as orquídeas respiram e retiram nutrientes pelas raízes.

Orquídeas do tipo 2 (sem bulbo): Essas orquídeas são originárias de lugares onde chove constantemente, no entanto, devem ser regadas quase todos os dias, ou seja, não deve-se esperar o vaso secar, nem encharcá-lo. Deve-se regar o suficiente, pois elas não armazenam água.

Iluminação:

As orquídeas adoram e precisam de iluminação, independente do tipo, o que não significa que devem ficar expostas ao sol direto. A iluminação deve ser constante, todos os dias, várias horas, de preferência que venha de cima, pois elas tendem a se voltar para o lado da luz. Em lugares onde o sol bate diretamente sobre as orquídeas, devem ser usados filtros apropriados para os raios solares. Assim, como nossa pele, as orquídeas precisam e não devem ser expostas aos raios diretos do sol. Os filtros são vendidos em casas apropriadas. Iluminação não significa sol direto.

No seu habitat natural elas são protegidas pelas copas das árvores, porém estão, diariamente, expostas à claridade. Esse tipo de claridade é essencial para que elas sobrevivam, cresçam e deem flores.

Nutrientes:

No seu habitat natural, as orquídeas são muito econômicas com o que consomem, pois se alimentam de raríssimos nutrientes que vão parar em cima das árvores (folhas, comidas de pássaros, etc). No cultivo em casa devem ser utilizados nutrientes próprios - líquidos (químico) ou em Pó orgânico (Kamachi). O adubo líquido é vendido para ser dissolvido em água e é rapidamente absorvido pela planta devendo ser usado mais vezes. O adubo em pó orgânico (kamachi) é absorvido a curto prazo. Deve ser colocado longe das folhagens, em períodos que variam de 3 a 6 meses dependendo do tamanho da planta ou do vaso.

Não deve ser acrescentado nenhum outro tipo de adubo, os utilizados em hortas, restos de comida, cascas de ovo, etc.

Temperatura:

As orquídeas devem ficar em ambientes secos, ao abrigo da luz. Não devem ficar em lugares sombrios ou próximo a temperaturas altas. As orquídeas não podem ficar em lugares muito fechados e abafados. Elas precisam respirar e aceitam bem os ambientes mais frescos, sem serem gelados, como nós seres humanos.

Local de cultivo:

As orquídeas são plantas que respiram pelas raízes, o que significa que jamais devem ser plantadas na terra. Para plantar uma orquídea, o cultivo deve ser feito em algum material de consistência fibrosa, que permite que entre oxigênio. O material mais apropriado é a fibra ou pó de xaxim, uma Samambaia arborescente, que chega a atingir até 3 m de altura. Seu tronco é usado para cultivo de plantas ornamentais, no entanto, sua utilização está proibida pelo IBAMA.

Para substituir o xaxim, os cultivadores estão utilizando a fibra de coco verde, ou a casca de coco, desses vendidos em supermercados, batidos e quebrados com martelo até virar um material apropriado para o plantio. O xaxim segura bem a planta, a fibra de coco segura menos, e a planta não deve ser virada para evitar a queda.

Vasos:

Os vasos não devem ser grandes, nem muito enfeitados. Devem, de preferência, ter buracos embaixo ou de lado, caso sejam de barro. Os vasos de barro são melhores para as orquídeas do tipo 1 (com bulbo). As orquídeas do tipo 2 preferem o vaso de plástico por reterem melhor a água. Para ambos, as orquídeas devem ser plantadas perto das bordas, com o lado crescente para o interior do vaso. Elas utilizam as laterais do vaso para desenvolvimento e firmação das raízes, o que faz com que vasos muito grandes ou fundos sejam dispensados por comprometerem a adaptação da planta.

Vasos com tintas, vasos de cerâmica, de vidro ou de madeira não são apropriados para nenhum tipo de cultivo de orquídea.

Transplante, troca e poda:

Após a secagem de uma flor, as orquídeas do tipo 1 (com bulbo) devem ser podadas no caule da flor acima do bulbo, ou seja, o mesmo nunca deve ser retirado. Para as plantas do tipo 2 (sem bulbo) espera-se secar naturalmente sem fazer nenhum corte.

Com o tempo, mais de um ano, as plantas precisam ser trocadas para um novo substrato (xaxim ou fibra de coco). Deve-se utilizar uma faca simples de mesa para cortá-la no lugar onde possa ser dividida, quando tiver muda. A faca dever ser esterilizada no fogo até ficar bem quente e colocada na água para esfriar e ficar rígida.

No corte de mudas de plantas do tipo 1 (com bulbo) deve-se obedecer a regra de que uma nova muda terá que ter mais de dois bulbos, ou seja, o número correto para dividir a planta em duas é de que as duas partes tenham 03 ou mais bulbos.

A folha mais nova demonstra a direção (lado) que a planta está crescendo. Deve-se contar a partir desta até o 3º ou 4º bulbo para fazer o corte, enfiando a faca até o fundo do vaso fazendo corte do xaxim. A parte com a folha nova deve ser retirada e a parte que ficou deve ser complementada com o xaxim ou a fibra de cultivo.

O corte da planta é como uma cirurgia, ou seja, causa danos para a raiz da planta. A raiz não deve ser lavada, nem muito mexida. As orquídeas devem ser sustentadas por espetos (hastes) para que não fiquem balançando, o que protege a saúde de suas raízes. No fundo dos vasos deverão ser colocadas pedras, que podem ser britas bem lavadas.

Moral da história: o conhecimento não depende de interesse único e manifesto. É preciso acreditar que nenhum atrativo surgirá da ignorância. Sorte das orquídeas!

Fábio Alvino
Enviado por Fábio Alvino em 21/03/2011
Código do texto: T2861023
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