STRIP TEASE
“POUCO SE ME DÁ!
Suzana Heemann
Pouco se me dá!
Se pus a vírgula certa ou incerta
Se fiz a rima correta ou incorreta
– podem me criticar –
Mas o meu propósito é me expressar
Seja certo, seja errado.
Pouco se me dá!
Teu desdém, tua crítica constante
São representantes de tua inveja
Pois sequer uma frase correta sabes escrever!
O que importa é que nasça
Um arremedo de poema, um verso.
O reverso da crítica é o que me importa!
Arrasas um poema lindo por um ponto a mais ou a menos.
Esqueces o poema.
E não te pedi opinião!
Não pretendo ser um luminar com tuas correções!
E vou correndo tentar corrigir meus erros...
Publicado no Recanto das Letras em 17/02/2011
Código do texto: T2797239.”.
Eis um texto possesso (ou seria possessivo?) que bem denuncia a falta de preparo para a tarefa de escrever sem preconceitos em relação aos leitores. O poema, desde o momento de sua publicação, não mais pertence ao seu criador, e, sim ao receptor. E é ele que vai dizer de sua receptividade como peça estética. A eventual crítica de um leitor é algo que tem que ser recebida como contribuição positiva, ainda mais num site para escritores, e num país em que os índices de leitura são muito baixos. O leitor, com os seus aportes críticos, quer se fazer ouvir, tanto quanto o autor da peça publicada e naquele momento, objeto de leitura. Se o autor da peça pretende que o texto seja seu, a ponto de expressar-se: "E não te pedi opinião!", melhor seria guardar o texto como troféu pessoal, na gaveta, porque, ao publicá-lo, não é lícito exigir esse comportamento de seu leitor, que está contribuindo com o processo de popularização da obra posta a nu, ainda mais pela net, que é, naturalmente de domínio público... Não esqueça o autor de um site de escritores, tal como este Recanto: o importante, aqui, é que se discuta o texto quanto ao fundo (conteúdo) e forma (ritmo e estética). Se o autor não está pronto para a crítica, que não publique, ou, então, crie um site pessoal (e não público) e autorize, por senha, os seus velhos e confiáveis leitores... Assim, possivelmente, terá a certeza de que não sofrerá críticas, somente loas, elogios e, o que é comum, no plano psíquico: carinho e afeição não conseguidos no lugar comum da vida. Porque escrever artisticamente não é uma coisa comum... Não se pode confundir expressão literária com terapia individual. Claro que, quando o texto elogioso chega, locupleta-se o EGO e se pode cumprir a sensação gozosa e reprodutora de comportamento plausível. Quanto à classificação: o texto em exame não se reveste das características do gênero poético, portanto, não cabe a sua lavratura em versos, e, sim, em PROSA. Não concordo com o humor do mesmo, mas é interessante a postura amadorística contida no mérito do texto. E os ególatras de todo o tempo – aqueles que não sabem como utilizar os signos – por certo, estrepitosamente, baterão palmas... O exercício da palavra é sempre um desnudar-se de humores...
– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/11.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2836993