O ALTER EGO E A BOLHA DE SABÃO

Não há uma “fase do alter ego”, e, sim a descoberta e o reconhecimento deste elemento psicológico que convive dentro do autor do poema. É o companheiro de todos os dias, principalmente nas situações antagônicas, aflitivas, quando o mundo parece que rui à volta... Só existe quando ele aflora na gente, porque é ele – O OUTRO EU –, aquele que instiga e concebe o poema com Poesia. Sim, porque há versos com ou sem Poesia e não há meio termo... Quando fala o EGO, a linguagem é derramada, aberta, direta, mesmo que contenha alguma doçura e até, num primeiro momento, se a possa confundir com o sentido conotativo das palavras, que é o que produz a linguagem poética. Se, no entanto, a voz é a do ALTER EGO, ela vem travestida, fruto do mistério de DIZER NÃO DIZENDO TUDO... Esta sequencialidade – que se segue à usual terapia ocupacional individual de fazer o poema por fazer ou para ocupar o tempo – é a da descoberta que o que até aqui se construiu foi somente para o agrado do EGO, portanto, nada de Poesia, somente relato sobre os fatos e tensões que o autor vive ou viveu. A Poesia nasce depois de que tudo isso ocorre, porque ela, em si, não tem teto nem chão... Pulula dentro da gente como uma bolha de sabão e explode no poema. Ou melhor, se esvai nele...

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

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