A LINGUAGEM INTIMISTA

Recebo, com alegria, o carinho de Sirlei Passolongo, poetisa, cuja obra acompanho de longa data no Recanto das Letras e em outros sites, e procuro atender ao “Convite” para leitura deste, remetido pelo Orkut.

“CONVITE

Sirlei L Passolongo.

Meu amor...

Seus olhos levaram

o brilho do meu sorriso

Seu gosto ficou em mim

Um néctar cheio de feitiço...

Sua imagem nas paredes frias

A todo instante me convida

E quando minhas mãos te buscam

Voltam tristes, vazias.

Publicado no Recanto das Letras em 11/09/2010.

Código do texto: T2491911”.

Vamos ao exame do possível poema, no mérito.

Eis um belo exemplar do que chamo "RECADO DE AMOR", que é o embrião do poema para a construção do exemplar de Poesia, com a possibilidade de que, ao se usar vocábulos mais codificados, o "recadinho" se revista das características da eterna Poesia.

Tal como está, chama a atenção o derramamento lírico do texto, a falta de figuras de linguagem, tais como metáforas e metonímias e a pessoalização do conteúdo, que não contém a universalidade, e, sim, avulta a bilateralidade do emissor-receptor: a autora dialoga com o amado (ora na terceira pessoa, ora na segunda) idealizado e traduzido em linguagem afetiva...

No texto, a tessitura poética ainda não exsurgiu, ocorrendo outra linguagem intimista, possessiva, direta, mesmo que idealizada pela autora como se fosse Poesia da espécie poema moderno, absolutamente livre, sem rimação, como é a tônica da Poesia da Contemporaneidade.

Desta sorte, resta excluída a Poesia como gênero literário...

Em assim procedendo, o autor não possibilita tal linguagem codificada, pejada de “estranhamento”, pois não abre as janelas da ‘sugestionalidade’ e da ‘transcendência’ (duas das principais características da Poesia) para o seu leitor, principalmente devido ao uso do tratamento em primeira pessoa e o derramamento possessivo, através da utilização do “eu e do “meu”, linguagem coloquial, portanto...

Peço escusas, mas esta é a tarefa do crítico literário: funcionar como provocador, instigador, apontando critérios de forma e fundo, sempre objetivando a melhoria da construção estética, especialmente em Poesia.

Diga-se de passagem, algo bem mais difícil e trabalhoso do que escrever o poema. E ainda correndo o risco de ser malentendido...

Necessário se faz, por derradeiro, anotar que a especificidade de ser ou não exemplar pertencente ao gênero Poesia nada tem a ver com a predileção dos leitores por esse tipo de escrito. Há milhões de textos intimistas impressos em livros e nos domínios da net. E todos imensamente lidos. Mais do que alguns apreciáveis espécimes de bons poemas.

O Amor, no seu peculiar jogo lírico-amoroso, real ou inventado, ainda é o fascínio da criatura humana. Felizmente...

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/10.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2492589