O POEMA PROSAICO
Na intenção de colaborar para o aprimoramento dos novatos que desejem se abeberar de conhecimentos sobre o poema em prosa e suas rarefeitas figuras de linguagem, aproveito este belo exemplar de um consagrado poeta que, surgindo como locutor em emissoras de Rádio, ao apresentar, na década de 60 do século XX, o programa “Salão Grená”, na Rádio Nacional, adquiriu imensa notoriedade em todo o país. Chegou, inclusive, aproveitando a consolidação da imagem pública, a se eleger deputado federal pelo Rio de Janeiro, em vários mandatos parlamentares.
Comecemos por fazer a ESCANSÃO ou a divisão silábica dos versos:
Vejamos:
“CACHOS DE UVAS
J. G. de Araújo Jorge
Ve/jo em/ teu/ cor/po/, teus/ seios
re/don/dos/, be/los/, pe/sa/dos,
co/mo ao/ tem/po/ das/ vin/di/mas
os/ ca/chos/ de u/va/ dou/ra/dos...
E/ to/mo-os/ nas/ mi/nhas/ mãos,
sa/zo/na/dos/ de/ ca/lor
pa/ra/ meus/ lá/bios/ se/den/tos
do/ vi/nho/ de/ teu a/mor
Teus/ sei/os/ são/ ca/chos/ de u/vas
u/vas/ da/ te/rra ou/ do/ céu
sei/ que em/bria/gam/ mais/ que o/ vi/nho
que/ são/ mais/ do/ces/ que o/ mel”.
Análise crítica:
Esta peça não é um poema branco (absolutamente livre quanto à rimação), como aparentemente poderia se apresentar aos olhos do leitor.
Trata-se de um texto poético que utiliza versos de sete sílabas fônicas (ou poéticas), enfim, é um setissilábico perfeito, o que lhe dá ótima sonoridade e sabor muito ao gosto dos leitores.
Cada estrofe tem o seu cadenciamento rítmico ao estilo da antiga quadra portuguesa, com rimas alternadas no segundo e no quarto verso. Denota que a formação poética do autor é a da escola clássica, pretendendo ingressar na contemporaneidade formal do modernismo.
O poema foi publicado na década de 60, no livro “POEMAS DO AMOR ARDENTE”. Peça que pretende ser vista como exemplar de Poesia, mais parece um poema em prosa ou prosa poética, devido à rarefeita utilização de figuras de linguagem.
O autor prefere o comparativo, em vez da metáfora profunda ou polivalente, como se pode observar no final da peça. Neste sentido, o título é um achado, ao comparar os seios da amada aos cachos de uvas dos vinhedos.
Urânia, SP, 16 de agosto de 2010.
MONCKS, Joaquim. DICAS SOBRE POESIA. Obra inédita em livro solo, 2009/10.
https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=2447355