POESIA E FIGURAS DE LINGUAGEM

Recebo para análise crítica o poema abaixo, portanto, vamos ao trabalho:

“ESBOÇO

Mariza Nonohay

Desenho querer no espaço

Num raio de luz que entrou

Me aninho neste compasso

Que a vida conjugou.

O grito de tuas razões,

Moldou um sorriso ameno

Enchendo a sala da vida

Da alegria do ser pleno.

Me deito nesta lembrança,

Renasço dentro de ti,

És um nascer de esperança,

No texto que redigi.

Interpreto esta chegada

Como marca do destino

Retornando ao ser amado

Num ritual peregrino

Deste luz à minha vida,

Foste remanso e regaço,

Te busquei amparo e guarida,

E descansei em teu braço.

Hoje te torno distante,

No meu novo ensimesmar

Pois não te quero aos pedaços,

E sei que não vais me amar.”.

Mariza, querida poetamiga! O texto tem bom conteúdo lírico. Claro, não tem nada de significativo, porque, mais uma vez é a trivial linguagem dos desamados, o que dificilmente caracteriza um texto com Poesia, e, sim, é mais um “recado de amor” utilizando-se dos versos, buscando ritmo e alguma linguagem semelhante aos costumeiros recursos poéticos, mas que não significa que contenha, realmente, Poesia. É uma composição juvenil chorando a perda do objeto afetivo, cantando a perda do amado, o jogo doloroso da posse... Sob o aspecto formal, no texto ainda está muito aparente a obediência à rimação. E isso, a meu ver, subordina a idéia à construção rimada, que não é mera assonância, como acontece na poesia da contemporaneidade, nos cânones do modernismo, o que permite soluções muito mais criativas... Procura te libertar das rimas e prioriza as metáforas – a codificação da linguagem – que é a mais importante característica da Poesia, em todos os tempos... Faço-te um pedido: neste texto que pretende ser poético, IDENTIFICA uma metáfora profunda, em qualquer um dos versos... Só pra argumentar, a tal de metáfora, segundo o Aurelião, é: “Tropo que consiste na transferência de uma palavra para um âmbito semântico que não é o do objeto que ela designa, e que se fundamenta numa relação de semelhança subentendida entre o sentido próprio e o figurado; translação. [Por metáfora, chama-se raposa a uma pessoa astuta, ou se designa a juventude primavera da vida.]”. Para que se identifique a Poesia como gênero, é necessário que o texto contenha figuras de linguagem, e a metáfora é somente um destes tropos, isto é, o emprego de palavra ou expressão em sentido figurado. Sem a presença desses, no texto, não se pode falar em versos com Poesia. O que não as contém são habituais exercícios verbais, porém sem Poesia, entendes? Poesia não é, apenas, forma de apresentação do dizer. É muito mais do que isso...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2009/12.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2308322