O AUTOR TEM DE LEVAR EM CONTA O LEITOR

Continuo acompanhando a tua saga de publicações, com alegria e apreço. Confesso que estou muito confuso pelo inusitado dos textos, para que possa fazer a devida e cuidadosa apreciação.

Desde a tua primeira publicação, O ANJO ALFORRIADO: http://www.recantodasletras.com.br/poesiasbucolicas/2083952 , e que me causou muito prazer e gozo emocional e intelectual, não encontro novidades, no site, que me sensibilizem, motivem a palavra...

Tenho muito cuidado porque és jovem e talentoso, em Poesia. Teus vinte e um anos pedem que me acautele com relação ao aprofundamento da análise crítica...

Quase tudo o que tens publicado (e que aparece nos sete últimos textos editados no Recanto das Letras) é muito confuso, surrealista e quase onírico. Não entendível, em boas palavras.

Relembro, ao me topar com os teus textos, a prosa poética "beatnik" norte-americana dos anos 60, em que pontuam Jack Kerouac, Allen Guinsberg e Gregory Corso.

Nestes intelectuais “gauches”, agônicos e angustiados por natureza, e comumente usuários de drogas (talvez este seja o vetor predominante), ocorria presente, no ALTER EGO, no EGO POÉTICO, o repicar do pessoalíssimo do autor, marcado pelos confusos escaninhos de um estado mental rico, porém quase sempre desconexo.

Tal está ocorrendo no teu estro de bom poeta, de elevado conhecimento de vocábulos, de riqueza metafórica, de boa sintaxe, de bom uso verbal e gramatical...

Parece-me que estás a escrever Prosa poética (ou Poema em prosa), e não Poesia, nos cânones atuais. Observa, peço-te, a classificação do RL.

Por que não classificar corretamente? Mesmo assim, parece-me que não tens feito a famigerada e necessária "transpiração": o segundo momento da criação artística, seja em Prosa ou em Poesia.

Peço revejas os textos, com acuidade crítica.

Procura fixar os fios pensamentais de cada estrofe, sem prejuízo da “sugestionalidade” e da “transcendência”, de modo a permitir o entendimento do leitor.

Poesia não é charadismo nem enigma...

As figuras de linguagem, que a caracterizam, são apenas os elementos denunciadores do sentido conotativo. É quando a palavra veste o seu traje de festa. E o encantamento dos colares e dos aneis realça a forma da beleza da mulher nominada Palavra...

Nunca esqueças: abre uma janela ao outro polo da criação literária.

A prazerosa tarefa de fazer poemas não deve ser confundida com terapia ocupacional individual...

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/10.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2112329