O SONETO DITO MODERNO

----- Original Message -----

From: golberi chaplin

To: Joaquim Moncks - Gmail

Sent: Wednesday, September 16, 2009 10:30 AM

Subject: Res: Encontro no Dom Casmurro - RG, 11Set2009.

“SONETO AZUL

Golbery Chaplin

Iemanjá, caprichosa, pelo mundo volitava,

pois procurava o filho Mar; pelos distantes

continentes, vãos lugares e a todos perguntava;

mostrei-lhe meu Rio Grande, leito de gigantes.

A Rio Grande ela acorreu o quanto antes

e o Mar aqui estava, luarejado; dormitava

feliz por sobre as praias como infante

e nesse azul Iemanjá adengava e agraciava.

Ao acordá-lo ele sorria e outra vez sonhava

com as areias peroladas. Aqui nascera

e respondia: Mãe, estou em minha querência!

Filho, em Rio Grande está o Mar que eu buscava!

E abrindo o manto, disse a mãe faceira:

É nesse colo que te quero em minha ausência!

Caro amigo.

Vê se gostas deste. É minha homenagem (pobre) à cidade do Rio Grande, onde moro. Desculpa a pobreza das rimas em verbos e a falta de metro. Mas como estes versos já têm mais de 15 anos... Prometo melhores.

Grato pelas fotos e pela tua passagem entre nós.

Fiat Lux. Paz Profunda.”

Amigo querido e confrade de Letras!

Também agradeço a recepção que os irmãos poetas deram a mim e aos meus acompanhantes: o poeta Adilson de Miranda, do Centro Literário Pelotense – CLIPE, de Pelotas, e o advogado e escritor Sérgio Puccinelli, digno presidente da Academia Rio-Grandina de Letras Ficamos encantados com o clima harmonioso do encontro.

Tudo estava muito bom, a prosa, o vinho e o “arroz à china pobre”, que o Heraldo providenciou. Sempre que chegar por Rio Grande sei que terei no Grupo Dom Casmurro a confraternidade como cartão de visita.

Quanto ao texto poético que ora me remetes, fico honrado, lisonjeado. Grato por haveres retornado com novidade tão ao meu gosto. A poesia é a minha cachaça, o meu “ludus primus”.

Não é muito do meu gosto o soneto como forma de expressão poética, porque "camisa de força" da Poesia. Sempre me parece que o sonetista faz concessões ao metro (contagem de sílabas fônicas) em detrimento da linguagem poética. Arquiteta-se o formato com imenso prejuízo do conteúdo. Esta é a regra para toda a expressão em arte poética: tem de se equilibrar forma e conteúdo.

Porém me lambo todo como uma criança que come um pirulito (hoje, a rigor, já nem posso mais comer aquelas bolotas açucaradas, visto o diabetes, mas a cisma de infância ficou, tanto que vem à mente o comparativo) quando me topo com um bom soneto: metro, cesura, hemistíquio, tudo certinho, rimas bem urdidas, fundo e forma clássica, não mero formato.

Desta sorte, não reconheço o soneto dito moderno, porque este não é soneto, é um poema concessivo à rima. Este aqui é um exemplar que se encaixa como uma luva...

Já que esta peça está rimada, por que não lhe ajustar ao metro, ao modelário que tão bem conheces? Afinal, o soneto clássico é arquitetura que privilegia o ritmo, em Poética. Esta é a sua principal característica.

Parece-me que o exercitar a poesia é que nos faz poetas. Claro, para a genialidade esta regra não vale... Pouco acredito em inspiração, e, sim, na "praticagem", que é a transpiração. Um soneto com este temário localista poderá vir a se tornar clássico.

Até o vício das palavras estranhas ao uso natural da linguagem popular e o ufanismo localista e histórico marcam esta peça, que chama a atenção pelo excessivo uso de versos longos e pouca Poesia como gênero.

Talvez, acaso melhorasses as rimas (há poucas rimas ricas) e lhe desses a forma correta de um alexandrino (devido ao temário, em que o poeta tem de se alongar em explicações e qualificativos) que é o metro que mais me parece se ajustar à temática peculiar que exsurges poeticamente.

Gosto da imagem maternal tão ao gosto dos sonetistas clássicos ("abrindo o manto...", no 2º verso do 2º terceto), também do neologismo poético que aparece em "luarejado".

Todavia, a poesia passou longe como gênero literário neste conjunto de versos: não há METÁFORAS, a princesa da linguagem poética. Somente um frágil comparativo em "como infante..."

Ausente a metáfora, a poesia não se revela! Poesia só existe pelo sentido conotativo. Mas valeu a tentativa de buscá-la como gênero e espécie rara...

O soneto é forma clássica, tem regras e cânones a serem obedecidos, não é qualquer poema “moderno” que lhe vai chegar aos pés... Se bem que a Poesia não bafeja a forma, e, sim, o talento do experimentador.

Quem pratica versos, um dia, seguramente, vai chegar à Poesia...

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/1824862