O CIRCO DOS SIGNOS

Para compreender Poesia não é necessário alto substrato cultural. Importante é que se tenha vontade de viver o poema, prosear com os duendes que o ocupam, o que propicia em nós essa sensação diferenciada a que denominamos "estranhamento". O leitor é um forasteiro à sala de mistérios. Torna-se necessário ligar neurônio a neurônio, concentrar-se na proposta que a poesia encerra. No entanto, há uma função educacional no decurso do poema, como ocorre em toda afluência literária: o encontro com palavras, que estão escondidas dentro dele. Traduzem a tentativa de trazer ao mundo a ideia a ser transmitida. Os vocábulos se apresentam à consideração do leitor. E muitos são desconhecidos, estranhos ao dia-a-dia. Só resta uma saída: ir ao "amansa-burro", que é como os antigos chamavam – carinhosa e jocosamente – o dicionário. É aí que a gente se torna menos estrangeiro ao circo dos signos.

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/1777992