POÉTICA
“Domingo
Raimundo Lonato
O domingo engana a tarde.
O sol, menino arteiro,
brinca de esconde-esconde
entre coqueiros e montanhas.
Ouço cantares, digo louvores.
Santos abençoam ovelhas,
costuram poemas
nas camisolas de lã.
O domingo passa,
nuvens passam.
Lépido, o vento
leva folhas secas,
não leva o amor,
nem a melancolia.”
– remetido pelo Orkut, em 03Mai2009.
Bela e descontraída peça esse teu “... domingo enganando a tarde”. Bonito e bucólico poema. No entanto, o final parece-me que necessitaria maior transcendência. Este é o problema quando as estrofes iniciais são maneirosamente compostas de metáforas polivalentes de bom poder sugestional, como é o caso presente: a Poesia acaba rarefeita no final do poema. A voz poética quase sempre perde fôlego, prejudicando a poeticidade (intrínseca) da obra artística. Vale uma sugestão? E se transportasses a segunda estrofe para o final da peça? Acho que o poema, que já é bom, ficaria melhor ainda. Reforçaria a sugestionalidade do poema por inteiro, dando à peça, como um todo, tonicidade poética apreciável e intensa. Melhoraria o “corpus” da poeticidade. São chatos estes tais críticos, não? E fica a ironizar o alter ego do poeta. Talvez o espiritual de João Cabral de Melo Neto...
– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/2013.
http://recantodasletras.uol.com.br/tutoriais/1579132