O SEGUNDO MOMENTO DA CRIAÇÃO POÉTICA

– para Marilene Teubner, em Urânia/SP.

Mantenho, com alguns autores, uma relação muito profunda que se estende ao processo de criação poética.

Autorizado devidamente por anteriores manifestações escritas, faço a urdidura de forma do futuro poema, eis que, nestes escribas, está assente em suas cucas que literatura é matéria viva, mormente no primeiro momento de criação, que é o da “inspiração”. E que a confraternidade se torna verdade também no decorrer da confecção do poema ou do texto em prosa.

É o que ocorre com a autora em destaque, que mora em Urânia, no interior de São Paulo, que tem cerca de cinco mil habitantes, e sequer possui uma livraria. Portanto nada de livros disponíveis para leitura e amadurecimento do autor. Quando tomei conhecimento deste fato, imediatamente tornei prioritário o acompanhamento da obra da Sra. Teubner, poeta em flor, e assumida:

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“Em forma de versos descrevo meus desejos sufocados, minha dor e amor.

Seja esta a parte mais doce da vida ou a mais amarga... Não importa.

O que de fato importa é meu grito.

Muitas vezes morri e num suspiro retornei a vida, por saber que necessária é a minha existência.

Seria egoísmo morrer.

Tenho um compromisso com minha vida e com outras vidas.

O que sinto. Escrevo.

Mesmo que não seja importante.

Vou tecendo minha historia em versos.

Injusto seria maldizer-me da sorte.

Sinto-me abençoada em tudo, e protegida do destino.

Irônico destino que embaraça, separando, aproximando e definindo nossos caminhos em silencio.

Os românticos são ridículos, por serem capazes de adoçar o amor, disfarçando suas imperfeições.

E no sofrimento derramar lagrima da alma, liberando o sangue de suas feridas.

Não me importo de fazer parte do ridículo.

Viver a poesia é sentir a alma do avesso.

A alma é livre... o sonho é livre.

Meus versos seguem no cotidiano de nós mesmos...

Sem disfarces busco na essência é capto o gosto de um beijo... sentindo o calor de um imaginário abraço que me acalme e me complete.

Na lagrima que cai... me liberto de impurezas, e sigo no renascer da esperança em teu sorriso.

Doces são meus versos.

Tristes meus lamentos.

E eterno o amor que me inspira.”

Marilene.

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Com este depoimento pessoal, subjetivismo com alguns laivos poéticos, a autora pretendia que o texto pudesse vir a ser conhecido como um “poema”.

Os iniciados, de pronto, notam que se trata de um depoimento pessoalíssimo, de um confessionário pejado de quase-poesia.

Marilene Teubner pede-me opinião, e, acaso tenha disponibilidade, uma sugestão de forma para o seu poema.

Extraio do texto o que me parece poético, enfim, um poema com Poesia, e ofereço a forma-sugestão.

Nada mais do que sacudir a bateia pra encontrar o que é precioso.

Trabalho simples para o experiente, muito difícil pra quem se inicia na arte dos versos. Dá-se ao poema o título, baseado na primeira afirmativa de conteúdo.

“FAZER PARTE DO RIDÍCULO

Marilene Teubner

Não importa fazer parte do ridículo.

Viver poesia é sentir a alma do avesso.

A alma é livre. Os sonhos são livres.

Os versos seguem o cotidiano de nós...

Sem disfarces busco a essência:

o gosto de um beijo

o calor de um imaginário abraço

que acalma e completa.

Renasce a esperança no sorriso.

Na lágrima liberta de impurezas,

doces são os versos,

Tristes os lamentos.

E eterno o amor que me inspira.”.

É o poema nascido da “barriguinha” da Prosa Poética, que por certo só pôde ser achado por força do trabalho, da transpiração, forte no exame detalhado da matéria que aparecia “em bruto”, no primeiro momento: o da inspiração...

E a autora, com brandura e singeleza, remete nova mensagem tendo o poema como mote:

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“Meu conhecimento é mínimo. Espero sempre suas “intromissões”. Aprendo com elas.

Adorei o texto... Já o adotei com meu? Posso?

Este texto faz parte do sarau de apresentação do evento literário e teatral “Sabor Pitanga”. Envio por e-mail para analisá-lo. É fato que vivo sozinha buscando aprender sempre.

Sinto-me honrada e feliz em contar com seu conhecimento e amizade.

Preparei com amor toda a apresentação do lançamento, onde uma amiga narrou e um casal de jovens “tipo” Romeu e Julieta declamaram os poemas.

Beijos. Marilene.”

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Animado pela aprovação da autora dos versos, aos quais apenas se deu forma, transpira-se novamente. Tudo detalhado para que a autora, a quilômetros, possa se sentir parte da oficinação de Poesia, que ocorre graças ao ferramental que a net nos oferece.

E o analista remete a ela novos detalhes e apreciações:

Continuemos a análise de forma, que é que vai dar as sensações de 'estranhamento' e/ou 'alumbramento', o que vai comunicar o conteúdo do texto. Tiramos o "que", no final, que prejudicava o ritmo do último verso, escorregando para a PROSA.

Havia ocorrido um erro de digitação no penúltimo (T maiúsculo) verso.

O que havia de 'cochilo de autor', enfim, eram muitos pronomes pessoais e possessivos, prejudicando o ritmo característico da POESIA, também a utilização de versos muito longos, derramados.

O ego do autor sempre interfere no poema. O ego nunca faz poema e, sim, somente o alter ego, borrifado de algum sentimento de posse.

A separação do último verso é o que se chama, em Poesia, de 'respirar do verso'. Exige a necessária pausa por parte do intérprete, no dizer, e ao leitor, uma chacoalhada nos neurônios.

Acho que o poema ficou melhor ainda...

E a Poesia mostra a sua cara, ainda molhada pelo suor do trabalho de autor e crítico.

Está recém-nato um belo exemplar estético fruto da confraternidade. Porque Poesia é isto desde o nascedouro.

Ei-lo!

“FAZER PARTE DO RIDÍCULO

Marilene Teubner

Não importa fazer parte do ridículo.

Viver poesia é sentir a alma do avesso.

A alma é livre. Os sonhos são livres.

Os versos seguem o cotidiano de nós...

Sem disfarces busco a essência:

o gosto de um beijo.

O calor do imaginário abraço

acalma e completa.

Renasce a esperança no sorriso.

Na lágrima liberta de impurezas,

doces são os versos,

tristes os lamentos.

E o eterno amor inspira.”.

Palavra é sempre tesouro do humano. O poema é a revelação deste.

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2006/2009.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/1440518