A DOÇURA DO AMAR E SUA PECULIAR LINGUAGEM
– para a autora, residente em Torres/RS, com muito carinho.
POESIA
Elisiane Cardoso
Sabe quando te vejo me bate um desejo
Algo sem explicação
Me bate aquela saudade do teu beijo
Tento evitar
Mas é impossível
É mais forte que eu ... Como pode ser possível?
O que há de errado com meu coração?
Estou no meio de uma tempestade
Sem ter para onde ir...
Como fugir...
Dessa dor que me invade
As minhas razões
Lutam contra as emoções
Sei que minha vida ao teu lado corre perigo
Talvez até seja tempo perdido
Mas é cruel ter que enfrentar teu olhar
Tarde demais para se declarar
Meu sentimento está completamente dividido
Eu estava me sentindo tão bem
Mas você me abandonou em meio á espinhos
Seu olhar diz que me ama
E ao enfrentá-lo os meus revelam o mesmo
Isso não deve acontecer
Meu Deus o que estou a fazer?
Minha vida pertence á outro
O queres de mim?
Não faz assim
Já enfrentamos o fim
Tarde de mais
Talvez não
Quem sabe
Não quero te ver assim
Não esperava terminar assim
Sofremos um longe do outro
Por que tudo entre nós é tão difícil?
Você diz coisas que me deixam fora do eixo
Me pira a cabeça
E enlouquece o peito
Me rouba o grito
Estremecendo a alma
E apertando o coração
O que há de errado comigo?
Por que é tão difícil te esquecer?
Como posso ainda te amar?
Pois você só me fez sofrer
E hoje é somente amigo
Não posso me declarar
É preciso me calar
Gritar para a alma
Mesmo que ninguém ouça
Preciso aliviar
Cicatrizar as feridas do peito
Não sabes como é ruim
Amar duas pessoas ao mesmo tempo
Isso tudo enlouquece o pensamento
Você é apenas passado
Por que insistes em estar aqui no presente?
Não me perdôo por ter sido assim...
Você tem o direito de ser feliz
Sei que fomos separados contra a vontade
Mas somos obrigados a suportar
Esconder o que sentimos
Esconder a historia perfeita que vivemos
...
Para poder dar força e coragem para seguir em frente
Não importa onde, como nem quando
Eu estarei com você até o fim...”.
Prezada Elisiane!
Somente agora, passado o período da edição de livros, de comparecimento e participação nas Feiras de Livro de Porto Alegre e Pelotas, quando estive às voltas com mil atividades, encontro esta mensagem em minha caixa.
Aproveito para te parabenizar pela peça poética que ora remetes e agradecer pelo momento aprazível que me proporcionas, em nível pessoal.
A Poesia – enquanto gênero literário – tem sido a minha companheira deste o final dos anos 60, culminando, em 1979, com a edição de meu primeiro livro, o “Força Centrífuga”, que deu duas edições no mesmo ano de lançamento.
Por isso, fico muito feliz quando recebo um poema, uma manifestação poética, mesmo que ainda não esteja formatada com o segundo momento de criação, a que chamo TRANSPIRAÇÃO, que ocorre com a participação da intelecção, enquanto o primeiro momento é o da INSPIRAÇÃO, em que prevalece a emoção.
É o que observo nesta bela peça emocional. Aqui está o embrião de futuro poema, mas ainda não estamos frente a um texto pleno de Poesia. Trata-se de um bilhete de amor dirigido ao Amado que rói lembranças e te dói no corpo, na cuca, onde, enfim, te faz falta...
A Poesia não pode ter esta subjetividade escancarada, traduzida pela existência de pessoalização do autor e o uso de muitos pronomes pessoais e possessivos. E esta lavratura me parece um erro crasso, nos dias atuais, em Poesia.
É necessário abrir uma janela para o leitor, pra que ele "se aposse do poema como se fosse seu". Tal como está o leitor está excluído, porque a linguagem está no EU e TU e ele, psicologicamente é carta ‘fora do baralho’, compreendes?
Talvez ninguém tenha te dito isto antes, mas este é o destino do discurso poético: desde que o fazemos e o levamos a público, ele não é mais do seu autor.
Aliás, o texto só tem o seu nascimento depois da publicação impressa ou nos domínios internéticos. O destino da Arte, qualquer que seja ela, é ser consumida por todos, pelo maior número de pessoas possível.
Não se pode ter possessão sobre ele, porque o poema já não é mais estritamente de seu criador. Ganhou asas para voar pra outros territórios. É dos outros para ser fruído, consumido, comentado, levado ao coração e à cuca. Renasce, recria-se a toda vez que é lido, interpretado por outrem.
Ao demais, não existe poema sem a princesa da linguagem que é a METÁFORA, que lhe denuncia, lhe dá forma e dignidade figurativa.
Nesta peça apresentada como poema, o discurso é direto, prosaico, destituído de figuras de linguagem, de recursos de estilo.
Mas esta doçura do amar, e sua linguagem tão peculiar, enganam quase sempre os novos e novatos. Parece que se está frente a um texto contendo Poesia.
Todos querem comunicar o seu amor ao(a) amado(a) mas nem sempre sabem usar as ferramentas poéticas, que têm seus segredos, suas técnicas. Não é, apenas, uma mera descoberta sentimental.
A criação rola primeiramente no coração, mas obtém a sua forma, o seu formato poético enquanto obra, dentro da cabecinha de seu autor.
O brasileiro enquanto Povo, por ler timidamente livros clássicos no gênero poético (o que é uma pena!) faz muita confusão em relação aos textos com esta explícita doçura.
Aqui temos um texto em prosa poética, que não é poesia, e sim outro gênero, tecnicamente. E esta deve ser escrita linha a linha, em prosa, não em versos.
Mas, como diria Fernando Pessoa, o poeta da lusografia e da lusofonia, pegando o seu pensamento à guisa de fragmento útil e oportuno, peço que sigas em frente, porque “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Ninguém nasce feito. Sempre é necessário expor a semente ao sol e à chuva. Cada plantinha tem suas peculiaridades. Nem todas as flores são iguais.
Mas, como estamos em experimentações, segue o texto como deveria ter sido publicado, já que se trata de Prosa Poética, e não lavratura em Poesia. Espero gostes.
“TARDE DEMAIS, TALVEZ NÃO, QUEM SABE?
Elisiane Cardoso
Sabe, quando te vejo me bate um desejo, algo sem explicação: bate aquela saudade do teu beijo, tento evitar, mas é impossível, é mais forte que eu...
Como pode ser possível? O que há de errado com meu coração? Estou no meio de uma tempestade sem ter para onde ir... Como fugir dessa dor que me invade
Minhas razões lutam contra as emoções. Sei que minha vida ao teu lado corre perigo, talvez até seja tempo perdido, mas é cruel ter que enfrentar teu olhar, tarde demais para se declarar, meu sentimento está completamente dividido.
Eu estava me sentindo tão bem, mas você me abandonou em meio a espinhos. Seu olhar diz que me ama, e ao enfrentá-lo, os meus revelam o mesmo.
Isso não deve acontecer. Meu Deus o que estou a fazer? Minha vida pertence a outro. O queres de mim? Não faz assim, já enfrentamos o fim.
Não quero te ver assim, não esperava terminar assim. Sofremos um longe do outro. Por que tudo entre nós é tão difícil? Você diz coisas que me deixam fora do eixo, me pira a cabeça e enlouquece o peito, me rouba o grito, estremecendo a alma e apertando o coração.
O que há de errado comigo? Por que é tão difícil te esquecer? Como posso ainda te amar? Pois você só me fez sofrer e hoje é somente amigo. Não posso me declarar, é preciso me calar, gritar para a alma, mesmo que ninguém ouça.
Preciso aliviar-me, cicatrizar feridas no peito. Não sabes como é ruim amar duas pessoas ao mesmo tempo, isso tudo enlouquece o pensamento. Você é apenas passado. Por que insistes em estar aqui no presente? Não me perdôo por ter sido assim...
Você tem o direito de ser feliz, sei que fomos separados contra a vontade, mas somos obrigados a suportar, esconder o que sentimos, esconder a história perfeita que vivemos...
Para poder dar força e coragem para seguir em frente não importa onde, como nem quando, eu estarei com você até o fim...”
– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2008.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/1325172