METÁFORAS, POESIA E PROSA POÉTICA
“POBRE POETA
Juleni Andrade
Pobre poeta louco
Caído ladera a baixo
Pela rasteira da desilusão
Arranhado pelos espinhos
Da paixão
Pobre poeta torto
Ébrio, dopado
Alma consumida, estourado
Em carne viva, sangrando
Apaixonado
Pobre poeta tolo
Agraciado apenas
Pelo brilho da quimera
Apadrinhado pela lua
Que se alterna
Pobre poeta fraco
Estilhaço de gente
Coberto de poeira fina
Enviesado, ali, morto
No chão da esquina”
( remetido pelo Orkut, 05Dez2008, 03h28min)
Amada poeta! Parabéns pela congeminação gráfica em teu texto "Pobre Poeta".
O conjunto plástico está bonito e clássico – ao mesmo tempo em que sensual e pleno de eroticidade – no tocante à escolha da marmórea imagem nua coberta com uma pequena peça de vestuário. Sugere, metaforicamente, mais pela exaustão após o gozo do que propriamente o fato 'morte'.
Veja-se que não há lesões (sugerindo morte natural ou envenenamento) e o braço esquerdo denuncia o torso de modelo vivo ou apenas lapso de composição gráfica à hora da aposição da imagem em diferenciado plano. Diferentemente do poema, que é rarefeito em metáforas, utilizando somente o linear das palavras.
A utilização do adjetivo "pobre" repetidamente, formando anáforas, deixa de alçar o poema (em seu contexto) a um dilargamento de conteúdo e parece carecer de transfiguração e transcendência.
Há lapso vernacular no segundo verso. Parece-me que, atendendo ao costumeiro uso, em Poesia da contemporaneidade, somente os versos que se seguem a pontos finais teriam seu início com letras maiúsculas. Isto remeteria à construção do soneto clássico.
No entanto, a autora iniciou todos os versos com maiúsculas, talvez devido à impressão padrão do programa Word. Creio ficaria melhor para a compreensão dos leitores se os versos obedecessem ao padrão das frases, com a devida pontuação gráfica, como acontece na prosa.
Aliás, a autora não utiliza pontuação nesta peça poética, e fica aparente que cada possível estrofe poética é, em verdade, um parágrafo prosaico, já que, repita-se, ausente a característica da metaforização, em Poética.
Tal como está lavrado o texto, comparece, tecnicamente, a Prosa Poética e não o exemplar pejado de Poesia como sugere aparentar a construção em versos.
O ritmo é bom, assentado na consoante "erre", o que dá um andamento pesado e lento pelo som natural inerente a tal letra.
Obrigado pela oportunidade de análise crítica. Este é o meu prazeroso vício, em Poesia.
Espero a autora esteja afeita à crítica. Nem todos convivem bem com esta nem sempre bem-vinda dama. Para outros, apenas uma inquietante faladeira.
Agradeço, de antemão, a tua compreensão, o teu aplauso. Em Arte, só se analisa o que se acha bom, o que se aprecia; sempre na intenção de que venha a ser melhor. É a conjunção entre o criador do texto e o leitor contumaz, o crítico.
Nem sempre a peça analisada, mas o alter ego do autor, porque é este quem faz Arte, nunca o ego.
Daí eu estar sempre proscrevendo e criticando o subjetivismo dos "eus" e os possessivos "meus", que excluem o leitor...
– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/1320088