NOVATOS EM POESIA E A CRÍTICA

A análise literária se dá poema a poema, os quais se devem apresentar com início, meio e fim, tal como ocorre em qualquer prosaico trabalho escolar. Se possível, os poemas se devem encaixar, no livro, também com início, meio e fim. Tem de haver certa unidade entre as peças que o compõem. Este procedimento facilitará ao leitor o entendimento da obra poética.

Os novos poetas, movidos pela paixão, não chegam a perceber esta necessidade metodológica e produzem, no poema, uma visão intimista, pessoalizada, subjetiva, a qual só aproveita ao autor, excluindo o outro pólo: o leitor.

A regra é que as peças poéticas sejam singelas e acabrunhadas, versadas em linguagem direta sobre o fato que deu origem ao poema, produzindo o “momento inspirado”. O autor quer, pelo poema, se comunicar consigo mesmo, e, por vezes, com o eventual consumidor.

No tocante ao livro editado – devido à alta auto-estima – o autor sempre acha que “publicou a sua última obra-prima”. Isto ocorre comumente também com autores escolados, veteranos.

A interpretação sistêmica (que é a que ocorre quando se compara vários poemas por similaridade de temática ou assunto) é um bom método para o exame de livro.

Para o analista, o importante é que o autor repense a obra em conjunto com aquele que exerce a função crítica. Que o “dono do texto” caldeie a experimentação. O crítico se sente útil e recompensado quando percebe que isto ocorreu com o autor. Percebe e avalia a importância da antítese ao que o autor lavrou no primeiro momento de criação.

E fica esperando a síntese dialética. Crescem ambos – crítico e criticado – porque exercitam a intelecção e realizam a cirurgia estética no poema, o qual vai chegar “transpirado” ao leitor.

Da mesma maneira que o poema, a crítica é tarefa trabalhosa, obra transpirada, pensada. Mas os novatos (mormente os tradicionais diletantes) asseveram que o poema é somente “inspiração”.

Poema é possessa paixão, alma aberta na página, porém se destina ao leitor. Necessita dizer por si mesmo, abrindo-se como uma flor ao olho de sol.

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2008/2010.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/1312460