LIRISMO: O EMBRIÃO DO POEMA

" CONQUISTA

Sônia Maria Grillo (Baby®)

No sideral espaço

em descompasso

do teu abraço

enrosco-me feito laço

em total embaraço.

Com felina graça

bem devassa

o amor ultrapassa

e de pirraça

te ganho na raça.

Vejo-te entregue no leito

é o homem perfeito

que com todo direito

e do meu jeito

aconchego no peito.

Inicia-se a evolução

sublime sedução

escrava do coração

extravaso a paixão

esquecendo a razão."

Oi, Baby! Perdão, mas a peça acima registrada é pessoalíssima, um relato bilateral, convite do jogo amoroso, ficção fantasiosa ou filme na memória.

Na fase e forma em que está é apenas o embrião de um poema, ainda não chegou à Poesia como gênero literário. O que temos aqui é um recado ao amado e só interessa aos dois amantes.

Não há convite de participação para o observador – que é o terceiro no ato-fato construído – porque o apossamento subjetivo exclui o necessário leitor.

Poesia é confraternidade e tem olhos para o coletivo, o autor tem de criar uma janela para o leitor também se apossar do texto e da mensagem.

Ao demais, no caso, o discurso é linear, sem a presença de nuances formais caracterizadoras da Poesia. Há palavras bem postadas, adjetivos bem colocados, algum ritmo assemelhando-se à escola do cantador popular, com o uso das rimas emparelhadas buscando assonâncias.

Nem sempre pela forma ou formato do poema se chega à Poesia. Esta é peça de fundo e não de forma ou formato. É conteúdo e não continente. Em Poesia, quando há conteúdo, a roupa com que se apresenta o objeto é importante. Perfaz o conjunto estético. Completa-o.

Mas isto não basta pra chegar à Poesia, em todo e qualquer tempo da história da humanidade. Muito menos ao poema da contemporaneidade formal, caracterizado pelo verso livre, sem rimas.

Vale o exercício, a procura desta fugidia figura de alumbramento, a que todos desejamos chegar, por praticantes dos versos.

Aponta-me, no texto, a presença de uma metáfora, a rainha da linguagem, que é o rosto diferencial da poesia, e que permite que tenhamos essa sensação de estranhamento em que o verdadeiro poema (com Poesia) nos envolve. Sem metáforas não há que se falar em peça poética. Esta figura de linguagem é a espinha dorsal do poema.

A sensação gozosa dos sentidos confunde o autor, que não percebe o que está dito no escrito e, sim, fixa-se no jogo amoroso que lhe dá prazer. Daí a confusão conceitual e fática em relação à existência de Poesia na escritura.

Consegues perceber a diferença entre o discurso lírico-amoroso e o poema com Poesia?

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/1288776