POESIA: EXPERIMENTAÇÃO E LINGUAGEM
(para a Margot Marguerite, ao seu alter ego de relacionamento)
“ENCANTO DE VIAGEM.
Leila Marques Bueno.
No meu coração
tua imagem se reflete.
No meu imaginário
procurei você.
Querendo se fazer
á sua mulher ideal,
no sonho do seu amor.
Nessa viagem
encontrei caricias
no seu olhar
Senti gosto dos teus beijos.
e prazer do teu corpo.
junto ao meu .
Encantei com essas emoções
e fiz entrega total
nessa desenfreada paixão”.
A autora Leila, aberta à crítica, remete o texto pelo Orkut para a devida análise. Despretensiosa, solta, como é de seu feitio.
Prezo-a em muito, porque é dada a aceitar o estudo, já que me parece carecer de quem possa fazer a antítese artística em sua localidade de residência. Não a conheço pessoalmente, somente sei que mora numa pequena cidade do interior de São Paulo – Mendonça – situada na região de São José do Rio Preto.
Vamos à obra como tarefa.
Atuar sobre material de terceiro é muito mais fácil de ser feito, visto que o crítico não tem a emoção (do fato) a lhe tolher a palavra possível de traduzir o que o ego (e, excepcionalmente, o alter ego) da autora traduziu em signos vazados de pessoalidade e subjetivismo.
Congeminam-se, neste momento de análise, idéias e palavras de duas pessoas: duas vertentes emocionais e intelectivas. Enquanto o autor expeliu os versos, o analista vai trabalhar com o objeto já pronto e acabado, ou, ao menos, em elaboração...
Em verdade, “Encontro de Viagem” não contém material capaz de ensejar um poema com as características do gênero poético, porque não contém nada codificado, cifrado... É somente a tradução emocional da fruição, do gozo do amar, portanto são versos sem a presença de Poesia como tal... Mas o texto contém a doçura do amar.
É um recadinho amoroso (que é sempre dulçuroso, inocente ou “tesudo”) a quem a autora ama, crê amar, ou, na plenitude do processo lírico, derrama o seu desejo de genuína fruição gozosa, em “... desenfreada paixão...”, confessa-nos no último verso da peça.
Pode se notar facilmente que ela tem o domínio do amado, criando-o em tudo, inclusive no que pretende seja a visão dele – o seu objeto de posse.
Recado de amor e poema são coisas diferentes, porque têm linguagens diferenciadas. O recado tem linguagem aberta, não cifrada, não codificada.
O poema é sempre o véu sobre o que se quer dizer, nada de abrir a linguagem, porque se não ocorrer isto, nunca irá se perfazer em Poesia.
Aqui vai, com o carinho de sempre, o texto com alguma cirurgia, com cortes, remendos e pontos a cicatrizar. Mera instigação ao estro de quem gosta de pensar...
ENCANTO
Leila Marques Bueno
No coração a imagem se reflete
e no imaginário você
a dizer-se presente
ao sonho do amar.
Nessa viagem de olhares
carícia nos gestos,
o beijo, emoções,
prazer de corpo no meu .
Encantei - me
e em desenfreada paixão
dei-me total entrega
ao gozo...
Os amados e as amadas merecem o signo da Beleza para que possam ser admirados. Mesmo que a luta com a palavra seja tarefa nada fácil: atingir belezas e formas... Até porque palavras exigem conteúdos sugestionais e alguma transcendência.
O relato sobre os fatos (e não estes), havidos ou não, é o que fica no mistério dos anos. E o quanto é bom ver o poema com os séculos a lhe ornar tempo e propostas de viver em conjunção...
Somente o espírito do autor a lhe ornar o cadinho de loas, máscaras e incompreensíveis véus, que quanto mais espessos, mais poesia a velar os fatos e futuros...
– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/1183407