AFETOS FEITOS E HAVIDOS

“Obrigada pelas contribuições, fico muito feliz pela ajuda e orientação para que cada dia eu melhore e me torne uma pessoa melhor.”. Adriana Duarte.

Ai de mim, querida amiga!

Perdão, mas não sei se com o meu proceder de postura crítica sobre os teus escritos vais te tornar uma pessoa melhor, porque tu me pareces muito legal no exercício dos ritos de convivência, prazerosa, otimista e solidária.

O que pretendo com as reiteradas análises é te instigar, realizar a provocação no plano da criação literária, prioritariamente em Poesia, que é o campo que conheço um pouco mais...

Aposto no teu talento e fico te acicatando com observações.

A rigor, não sei se uma pessoa que faz poemas tem de ser uma pessoa boa. Talvez até nem necessite ser...

O que o autor de poemas tem de ter é uma concepção pessoal que permita que ele transcenda e transfigure o plano da realidade, recriando a vida pra poder ser feliz e repartir, compartilhar este universo rarefeito de dados reais, mas pleno de sonhos, fantasias, fetiches.

Completado em seu interior, é possível que possa vir a ser solidário e útil aos outros. Propor o estético, o bem e até o mal, tudo transfigurado.

Algo pra ser consumido como uma barra de chocolate, docinha, saborosa, energética, ou, quem sabe, um cafezinho recém feito, com o seu aroma vário, sempre inédito em nossas narinas.

É apenas isto o que tento fazer: colaborar para um texto mais reflexivo, mais consistente, mais limpo. Enfim, como sou um condenado a pensar, imagino que terei companhia pra poder ser ainda mais realizado.

Aos mais de sessenta, muita vaidades já foram pro espaço, fica o que se curte, o que se vive, o que se ama...

A auto-estima já não preocupa muito, porque, se nesta idade ainda não se conseguiu vislumbrar algo de seu próprio talento, graças aos admiradores e amigos feitos no decorrer do tempo, melhor é pegar o chapéu e vazar...

Mesmo assim, os afetos feitos e havidos sempre serão péssimos críticos. Porque quem ama não vislumbra os defeitos, só as virtudes. É difícil conciliar a tarefa do crítico com o amor e a amizade profunda. Amizade também é um dos naipes do Amar. E quem ama somente exercita a doçura.

A tarefa da análise crítica não é para ser consumida pelo “personalíssimo” do autor e, sim de seu alter ego. É este o personagem que constrói literatice ou literatura, dependendo da entrega que o autor faz ao espiritual. E a este o autor se faz ou não.

Aceito o mergulho dentro de si, é possível que se venha a descobrir o universo similar ao de quem “bebe água na fonte”. E este misterioso cânone de transfigurações está nos livros, deitado no leito de fetiches deduzidos, sempre difusos, esperando que se revele o irrevelado.

Por tais e quais é que temos tantos escritores bons inimizados com os autores que fazem Crítica Literária, no decorrer dos últimos 100 anos. O pior de tudo é que na atualidade – a não ser nas revistas de órgãos educacionais e culturais especializados – artigos de crítica literária são matéria rara.

Os jornais da contemporaneidade preferem que os colunistas publiquem artigos temáticos e focados sobre o que é palpável, no consumismo. Há trinta anos, jornal pra ser bom e lido, tinha que ter uma coluna de crítica literária. Discutia-se o que era escrito, tudo aos olhos do grande público.

Talvez porque naquele tempo a ditadura tirara dos dicionários a palavra Liberdade... E o sonho era vê-la resgatada.

Em tudo e por tudo há sempre uma luzinha no fim do túnel.

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2008.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/1085376