A ARTE DE VIVER

Há quem passe pela vida sem vivê-la de fato. Quem age assim, certamente não aprendeu a amar a si próprio e aos seus semelhantes. A vida se lhe apresenta como um caudaloso rio de correnteza vigorosa que o conduz inexoravelmente a um destino incerto e inimaginável.

A realidade que o cerca é aceita como algo irremediavelmente imutável pelas suas ações. O mundo ao seu redor é algo que apenas lhe é dado e que não cabe intervenção. Quem se relaciona assim com o mundo é incapaz de questionar práticas comportamentais, de buscar o porquê das coisas.

Pablo Neruda, poeta chileno falecido poucos dias depois da perpetração do Golpe Militar que derrubou o presidente Salvador Allende no seu país em 11-09-1973, no poema “O culpado”, fala de alguém que não transforma sua vida em algo verdadeiramente produtivo e não se faz agente da história:

“Eu me declaro culpado de não ter

feito, com estas mãos que me deram, uma vassoura.

Por que não fiz uma vassoura?

Por que me deram mãos?

Para que me serviram

se só vi o rumor do cereal,

se só tive ouvidos para o vento

e não recolhi o fio

da vassoura,

verde ainda na terra,

e não pus para secar os talos tenros

e não os pude unir

num feixe áureo

e não juntei um caniço de madeira

à saia amarela

até dar uma vassoura aos caminhos?

Assim foi:

não sei como

me passou a vida

sem aprender, sem ver,

sem recolher e unir

os elementos.”

O mundo não é dado, ele se faz a partir das ações de cada um de nós. Mesmo sem perceber, todos nós participamos da construção do meio no qual estamos inserido, mas só nos tornamos de fato produtivos quando temos a consciência do nosso papel enquanto agente transformador. Dependendo de como nos posicionamos nessa dinâmica, promoveremos uma transformação que podem atender a interesses que nos pertencem ou que nada tenham conosco.