Sim, eu freio para animais!

Cresci ouvindo discursos sobre valores a serem preservados durante a vida. A amizade, o amor, a compaixão, a união, o respeito, a preservação da vida devem ser cultivados e colocados em primeiro lugar. Quando ouço alguém contando que foi assaltado, logo surge alguém dizendo: “O importante é que você está vivo e que não foi agredido fisicamente”. Em seguida alguém repete pela milésima vez o ditado: “Vão-se os anéis, ficam os dedos”. Ah eu concordo. Claro que concordo. E a pessoa logo se acalma, achando tudo lindo. Bando de gente hipócrita que jura que valoriza a vida. Só se for a vida do ser humano.

Outra situação comum de acontecer é que, eu como protetora voluntária, costumo comentar que, ao dirigir, freio para animais passarem. Lógico. Não posso, não consigo, não tenho o direito de tirar uma vida. Aí, geralmente, a pessoa que está dialogando comigo, me responde: “Ah, eu também sempre freio ou dou um jeito de desviar”. Eu, já acreditando no ser humano bondoso, começo a pensar: “Puxa! Que bom saber que não sou só eu que valorizo a vida dos bichanos”. E então, para a minha imensa decepção, a pessoa diz: “Claro, imagina, se eu atropelo um cachorro estraga toda frente do meu carro. Ainda vou gastar a maior grana pra arrumar. Bem capaz!”. Nesse momento eu fico sem palavras. Eu tentei acreditar. Eu tento, mas as pessoas sempre me mostram o seu pior lado.

Hipocrisia. O discurso é um, mas os fatos são outros. Muita gente se acha absolutamente bom, ajuda a qualquer pessoa que precise (desde que isso não afete o seu bolso), mas acredita que animais não merecem essa bondade. Vida é vida. Quem nunca ouviu o clichê “Dessa vida nada se leva”? Portanto, retomando o ditado, não adianta se apegar tanto aos anéis, salvem os dedos, mesmo que não sejam seus.

Enquanto muitos “humanos” seguem com seus valores distorcidos, me alegram aqueles que conseguem manter o seu caráter baseado em real “humanidade”. E ser humano não é ser um robô acumulando bens materiais. Ser humano é ter a vida como maior bem, independente de quem seja o “dono” dela.

E se encontrares uma maluca parando o carro na calçada pra socorrer um cão de rua ou um cão atropelado, há grandes chances dessa doida ser eu. Insensatez não. Compaixão. Ah! E o meu carro não tem, mas deveria ter, o adesivo comum a maioria dos grupos de proteção animal: “Eu freio para animais”.

Raquel Corrêa
Enviado por Raquel Corrêa em 21/05/2008
Reeditado em 21/05/2008
Código do texto: T999566
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