Papo sobre ruas,
largos e ladeiras
É caminhando por suas ruas, largos, ladeiras que a gente conhece uma cidade ou boa parte dela.
Numa passagem por Nova York, Ivone e eu resolvemos percorrer a Quinta Avenida, a pé! Chegamos, cedinho, no Central Park, e, à tardinha, estávamos de volta a Washington Square, onde ficava nosso hotel. Foi sem dúvida boa largada.
Fizemos todo esse percurso sem pressa; numa boa.
Parando aqui, parando ali; vitrinas e mais vitrinas; um cafezinho aqui e outro acolá; até um reforçado lanche, com uma Budweisser tinindo.
Naquele dia, os termômetros da Broadwei marcavam quatro graus Fahrenheit. Pequenos flocos de neve caíam delicadamente sobre a cidade. Fantástico!
Que foi cansativo, foi; mas gratificante. Volvidos tantos anos, e ainda guardo detalhes da avenida mais querida dos nova-iorquinos.
O que não ocorreria se eu tivesse usado somente táxis, ônibus e metrô.
*** *** ***
Ontem, estive tomando um drinque com uma amiga lisboeta, de férias na Bahia.
Num papo animado, ela me dizia qee tinha andado muito pelas ruas de Salvador. E se declarou encantada com os nomes de algumas delas. Citou uma que a fazia lembrar sua doce Lisboa: a Rua da Mouraria.
Aproveitamos para recordar lugares da capital lusitana por onde eu havia andado: o Chiado, o Bairro Alto, a Alfama, o Rossio, a Av. da Liberdade, etc., etc.
E a trepidante Rua Augusta onde, curtindo um fim de tarde bem português, bebi um excelente vinho do Porto, enquanto Ivone ia degustando um pastelzinho (imperdíveis!) de Santa Clara.
*** *** ***
Como a conversa continuava girando em torno de nomes de ruas, largos e ladeiras, eu lhe disse, que, apesar da condenável mania do troca-troca, Salvador ainda mantinha os nomes tradicionais, históricos, curiosos e interessantes, de muitos dos seus logradouros.
Ela demonstrou interesse em conhecer alguns desses nomes.
Minha memória, já um pouco gasta, não me permitiria, com certeza, indicá-los um por um.
Apontei-lhe, talvez, os mais conhecidos: as ruas do Cabeça, do Paraíso, da Ajuda, do Tira Chapéu, da Paciência, da Forca, da Poeira, da Curva grande, a estrada da Rainha, e da Mouraria.
Os largos da Lapinha, do Campo da pólvora, da Mariquita, de Santana, do Papagaio, dos Aflitos, da Palma, dos 15 Mistérios, das Sete Portas e do Pelourinho.
As ladeiras da Água brusca, da Preguiça, do Prata, da Santa Cruz, dos Galés, do Paiva, da Conceição, da Montanha, da Praça, do Quebra bunda e a famosa ladeira do Bonfim, que leva à Basílica.
Por último, falei-lhe sobre a Baixa do sapateiro, advertindo-a de que a rua que inspirou Ary Barroso, vive, hoje, na pior; maltratada...
Não é mais um cartão-postal da Bahia.
Ainda assim, ressalvei, por lá ainda circulam morenas frajolas iguais àquela da canção do Ary.
Parei, porque notei que minha amiga mostrava-se cansada: provavelmente de tanto andar a pé, comigo a tiracolo, por algumas ruas, largos e ladeiras de Salvador.
*** *** ***
A experiência tem ensinado que não se deve mexer nos nomes de logradouros públicos adotados e consagrados pelo povo.
Dois exemplos.
Conta-se, que, em São Paulo, faz muitos anos, um governador, para homenagear um amigo, deu à Avenida Paulista o nome de Avenida Carlos de Campos.
Não colou. A majestosa avenida de Sampa continuou sendo chamada pelos paulistanos de Avenida Paulista.
Coisa muito parecida se deu no Rio de Janeiro, com a Rua do Ouvidor. Morto Moreira César, deram à simpática Ouvidor o nome desse ilustre herói da guerra de Canudos.
Sob pressão popular, o prefeito Azevedo Sodré - lembra o escritor Afrânio Peixoto, in Miçangas - "tornou à Rua do Ouvidor, o seu nome tradicional".
Posso garantir, que a maioria dos baianos não aceitará, jamais, que se dê outro nome à Baixa do sapateiro.
Basta o que fizeram com o aeroporto da capital baiana, que teve seu nome - Aeroporto 2 de Julho - trocado por outro, sem que para tanto o soteropolitano fosse consultado.
*** *** ***
Com estas observações, escutadas atentamente pela amiga lusitana, dela despedi-me ouvindo os microfones da Infraero anunciando o vôo da TAP para Lisboa.
Avisos repetidos que só provocavam saudades...
largos e ladeiras
É caminhando por suas ruas, largos, ladeiras que a gente conhece uma cidade ou boa parte dela.
Numa passagem por Nova York, Ivone e eu resolvemos percorrer a Quinta Avenida, a pé! Chegamos, cedinho, no Central Park, e, à tardinha, estávamos de volta a Washington Square, onde ficava nosso hotel. Foi sem dúvida boa largada.
Fizemos todo esse percurso sem pressa; numa boa.
Parando aqui, parando ali; vitrinas e mais vitrinas; um cafezinho aqui e outro acolá; até um reforçado lanche, com uma Budweisser tinindo.
Naquele dia, os termômetros da Broadwei marcavam quatro graus Fahrenheit. Pequenos flocos de neve caíam delicadamente sobre a cidade. Fantástico!
Que foi cansativo, foi; mas gratificante. Volvidos tantos anos, e ainda guardo detalhes da avenida mais querida dos nova-iorquinos.
O que não ocorreria se eu tivesse usado somente táxis, ônibus e metrô.
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Ontem, estive tomando um drinque com uma amiga lisboeta, de férias na Bahia.
Num papo animado, ela me dizia qee tinha andado muito pelas ruas de Salvador. E se declarou encantada com os nomes de algumas delas. Citou uma que a fazia lembrar sua doce Lisboa: a Rua da Mouraria.
Aproveitamos para recordar lugares da capital lusitana por onde eu havia andado: o Chiado, o Bairro Alto, a Alfama, o Rossio, a Av. da Liberdade, etc., etc.
E a trepidante Rua Augusta onde, curtindo um fim de tarde bem português, bebi um excelente vinho do Porto, enquanto Ivone ia degustando um pastelzinho (imperdíveis!) de Santa Clara.
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Como a conversa continuava girando em torno de nomes de ruas, largos e ladeiras, eu lhe disse, que, apesar da condenável mania do troca-troca, Salvador ainda mantinha os nomes tradicionais, históricos, curiosos e interessantes, de muitos dos seus logradouros.
Ela demonstrou interesse em conhecer alguns desses nomes.
Minha memória, já um pouco gasta, não me permitiria, com certeza, indicá-los um por um.
Apontei-lhe, talvez, os mais conhecidos: as ruas do Cabeça, do Paraíso, da Ajuda, do Tira Chapéu, da Paciência, da Forca, da Poeira, da Curva grande, a estrada da Rainha, e da Mouraria.
Os largos da Lapinha, do Campo da pólvora, da Mariquita, de Santana, do Papagaio, dos Aflitos, da Palma, dos 15 Mistérios, das Sete Portas e do Pelourinho.
As ladeiras da Água brusca, da Preguiça, do Prata, da Santa Cruz, dos Galés, do Paiva, da Conceição, da Montanha, da Praça, do Quebra bunda e a famosa ladeira do Bonfim, que leva à Basílica.
Por último, falei-lhe sobre a Baixa do sapateiro, advertindo-a de que a rua que inspirou Ary Barroso, vive, hoje, na pior; maltratada...
Não é mais um cartão-postal da Bahia.
Ainda assim, ressalvei, por lá ainda circulam morenas frajolas iguais àquela da canção do Ary.
Parei, porque notei que minha amiga mostrava-se cansada: provavelmente de tanto andar a pé, comigo a tiracolo, por algumas ruas, largos e ladeiras de Salvador.
*** *** ***
A experiência tem ensinado que não se deve mexer nos nomes de logradouros públicos adotados e consagrados pelo povo.
Dois exemplos.
Conta-se, que, em São Paulo, faz muitos anos, um governador, para homenagear um amigo, deu à Avenida Paulista o nome de Avenida Carlos de Campos.
Não colou. A majestosa avenida de Sampa continuou sendo chamada pelos paulistanos de Avenida Paulista.
Coisa muito parecida se deu no Rio de Janeiro, com a Rua do Ouvidor. Morto Moreira César, deram à simpática Ouvidor o nome desse ilustre herói da guerra de Canudos.
Sob pressão popular, o prefeito Azevedo Sodré - lembra o escritor Afrânio Peixoto, in Miçangas - "tornou à Rua do Ouvidor, o seu nome tradicional".
Posso garantir, que a maioria dos baianos não aceitará, jamais, que se dê outro nome à Baixa do sapateiro.
Basta o que fizeram com o aeroporto da capital baiana, que teve seu nome - Aeroporto 2 de Julho - trocado por outro, sem que para tanto o soteropolitano fosse consultado.
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Com estas observações, escutadas atentamente pela amiga lusitana, dela despedi-me ouvindo os microfones da Infraero anunciando o vôo da TAP para Lisboa.
Avisos repetidos que só provocavam saudades...