Carla
Passava pela rua todos os dias, olhava para as casas sem prender-me a nenhuma em especial, e com pensamentos que vagavam na mesmice cotidiana. Aquela casa, porém, me intrigava, era a casa de Carla, sim, Carla! Eu a conhecera no transporte coletivo, quando vinha de uma prova seletiva, na qual ela também fizera, e viemos lado a lado, discutindo as questões, que terminaram em outras discussões insignificantes, fazia um bom tempo que a havia conhecido, mas lembrava-me dela, claro! Cabelo curto e vermelho, meio baixa, sorriso encantador e uns olhos grandes e acastanhados que causava em qualquer homem, uma idéia perturbadora de dominação e desejo. Quando descemos, ela mostrou-me sua casa, “aquela de pedra, frente grande e portões marrons, com uma árvore na frente” o que me intrigava, no entanto, era que jamais vira alguém na casa, e ainda assim, havia vestígio de moradores (mesmo que fantasmas). Uma vez havia uma rede armada, e um pequenino par de sandálias azuis repousavam sem qualquer dono; outro dia,uma moto preta parou, em frente a dita casa, um homem forte logo desceu, e gritou: Carla! Carlaaa!
Apressei o passo para tentar ao menos vê-la, passei pelo homem, e embora a porta estivesse aberta, não aparecera ninguém. Em meses depois consegui ver um homem dentro da casa, de idade avançada, porém, bem conservado, fumando na varanda, imaginei ser pai de Carla, mas acuei em minha timidez, e não perguntei por ela. Então se prosseguiram meus dias monótonos, passava em fronte da casa de Carla, a rede armada; a porta aberta; sandália no tapete; e simplesmente ninguém aparecia. Aprendi a contentar-me em ver a sua sandalhinha, pelo menos imaginava ser dela. Desisti de vê-la, olhava para lá sem qualquer expectativa, com o pensamento tão vago, em nada se fixava, nada questionava. Chegou o verão, não precisava mais seguir aquele caminho, matriculei-me em outro curso, fiz muitas amizades, aprendi a tocar umas músicas no violão e até arranjei uma namorada.
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