Percorro os corredores do Louvre com a vivacidade de uma lembrança pueril. A luz de um quadro de George de La Tour - "Saint Joseph, Charpentier" - despertou minha atenção quando o museu ainda não tinha a pirâmide e permaneceu como uma imagem que se projeta no tempo protegida do esquecimento. Luz! Percorro as galerias reconhecendo aos poucos as telas e os pintores, mas não consigo divisar o que é a presença da virginal percepção ou a recorrência das reproduções nos livros de história da arte.
Reencontro a Monalisa com o olhar amadurecido. Confesso que acho o quadro maior do que a memória. O sorriso... O enigma... Ou talvez a simplicidade que perverte a observação e deixa que os próprios mistérios e interditos assumam o olhar. Deixo-me envolver com o renascimento italiano, mas é necessário continuar a pegrinação em busca do encontro com a religiosidade de George de La Tour que pintava inspirado no cristianismo e no dia-a-dia das pessoas comuns com o exercício do "chiaroscuro" ou da perspectiva tonal, técnica criada por Leonardo da Vinci no Renascimento e desenvolvida no Maneirismo e no Barroco italiano.
Sem recordar em qual corredor guardei a lembrança, caminho num labirinto de cores e quase sonhos, tentando reconhecer a tela que tanto me impressionara. Ao entardecer encontro o espaço com os quadros de George de La Tour. A imagem restaurada de realidade. Quase memória, a revelar as estações como negativos projetados na emoção. Exploro com os olhos juvenis a superfície do tempo sazonado. O encantamento com a pintura permanece na convergência do olhar, talvez o verdadeiro significado de religiosidade.