Homem-terra

Meu Deus! Fujo de todas as placas, de todos os bichos, de todos os anjos. As placas estão com os sinais trocados, os bichos ainda não saíram da Barca de Noé, os anjos se perderam na Torre de Babel. E eu? E EU? Onde penso que estou?

Cadê você que não me encontra? Cadê você que não escuta meus gritos? Cadê você que não fala a minha língua? Devo estar preso atrás de uma porta com trinco e tramela. Devo estar mudo, surdo e cego.

Às vezes penso que devo fazer a barba, mas deixar o cavanhaque e o bigode. Mas quando pego a navalha e passo o creme de barbear, tenho medo do que possa vir a acontecer. Fico sem saber se tiro a barba e o cavanhaque, se deixo só o bigode, ou se tiro e bigode e o cavanhaque. Ou ainda, se deixo tudo e raspo a cabeça. Infelizmente não vai fazer muita diferença, sou apenas mais um.

Às vezes vou longe demais: tenho vontade de fazer uma cirurgia plástica, aumentar o nariz, como fez o seu Zé, ou então arrancar um dos dedos. Não aquele do cidadão famoso, mas sim o dos gestos obscenos. Acho que é isto que eles merecem, gestos obscenos!

Minha vontade é mandar todos os políticos para a favela da Rocinha ou para o morro do Alemão. Com certeza seriam reverenciados como manda um dos versos do Hino da Independência: “brava gente brasileira!”. É por isto que você não me encontra, é por isto que tenho medo desse povo, é por isto que estou trancafiado, é por isto que faço rima com anu. Que coisa feia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 20/05/2008
Reeditado em 04/10/2017
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