Um toque político
O país civilizado não distribui renda por senso de cidadania, nem por generosidade de suas elites, mas por saber ser esse o preço a pagar pela tranqüilidade em jamais ver surgirem déspotas do seio dos miseráveis. Uma democracia que hipocritamente imagina sobreviver conciliando lutas de classe fundamentadas nas diferenças abissais já nasceu com o estigma de enfrentar esses eventuais ditadores mais cedo ou mais tarde.
Alguns saídos das massas podem tentar composições, muito mais pela sobrevivência, adaptando-se às circunstâncias oferecidas pelas forças, do que pelo plano original que venha de encontro aos anseios da maioria pobre e aos seus projetos históricos, frequentemente “imediatistas” e administrativamente revolucionários.
Uma olhada na América Latina e veremos um exemplo para cada situação. Para cada grau de equilíbrio de forças. Não adianta citar exemplos bem sucedidos de outras nações que obtiveram sucesso econômico-social se cada uma tem a sua própria e determinante história. O sucesso de cada uma delas pode dever em alguns pontos sim a outras bem sucedidas, porem com as devidas adaptações.
É de admirar a ingenuidade com que se vê a esperança de que haja alguém puro em qualquer tendência ideológica com os exemplos rolando por aí de que os seres humanos no poder são apenas os seres humanos no poder. A influência de sua formação existe, mas ninguém muda um país com dividas sociais gigantescas apenas com idealismo dentro de um sistema político que se apóia no equilíbrio das forças de seus poderes. A própria família serve de exemplo de como as vontades de seus membros precisa ser considerada nas decisões, sob pena de instalar-se, seja em nome do que for a vontade de um só. Ela também serve para demonstrar os desvios radicais de seus membros ao arrepio dos costumes sem que, necessariamente, recaia o ônus da culpa sobre o seu líder. A pluralidade pensante precisa ser eqüitativa para fornecer elementos antagônicos de peso semelhante para que o cidadão comum possa avaliar as situações e ir tirando as mais justas conclusões e não apenas induzi-lo a focar em interesses de grupos. A responsabilidade de equilibrar as destinações de investimentos não deveria ficar para meia dúzia de componentes do poder, desde que essa democracia não privilegie aos mal intencionados.